domingo, 3 de fevereiro de 2013

Crítica: Os Miseráveis

Nova versão de musical ousa, mas é um pouco desafinada

Publicado em 1862, Os Miseráveis virou um grande sucesso, esvaziando prateleiras e ganhando milhares de edições em diferentes línguas ao redor do mundo. Tornado domínio público, a obra de Victor Hugo acabou ganhando um improvável musical em 1980 sobre a situação do povo francês, que agora chega aos cinemas pela mão do oscarizado Tom Hopper.
A história é a mesma: Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para saciar sua família, é preso, passa 19 anos na cadeia, rouba um padre, promete se endireitar e por aí vai. Claro, não há muito a mudar no roteiro, logo o importante de reparar é a retratação da pobreza do povo francês da época. E é aí que a parte técnica se destaca: Das vestes às marcas da doença, Os Miseráveis transporta o sofrimento da maioria da população, contrastando claramente com a pequena camada rica, ganhando filtros de câmera mais leves e suaves. O desabafo de Fantine em I Dreamed a Dream evidencia isto, ainda mais com a atuação soberba de Anne Hathaway, humanizando o sofrimento de sua personagem frente à perda de sua humanidade, tudo para sustentar sua filha Cosette (Isabelle Allen e Amanda Seyfred). No elenco também se destaca Hugh Jackman, fazendo um bom Jean Valjean, e o casal Thenárdier interpretado por Sacha Baron Cohen e Helena Boham Carter, que trazem um pouco de alívio cômico à pesada trama.
Porém o diferencial de Os Miseráveis é a parte musical. Inteiramente cantado, salve algumas poucas falas, o filme ainda traz a voz original dos atores, sem auxílio de um estúdio. Apesar da ideia ser muito criativa, a combinação de desafinos frequentes (Amanda Seyfred, por favor, aprenda a cantar) mais o enjoo de só ouvir gente cantando por duas horas e meia torna o filme maçante, além de tornar seu povo um pouco mais seleto. Por outro lado, a voz original torna ainda mais teatral e humano as atuações, como nas cenas da barricada ou de novo em I Dreamed a Dream, realmente o ápice do filme. Outro problema é o abandono de cenas mostrando a pobreza depois da barricada, o que torna a derrota do motim em uma estranha vitória.
A experiência de Os Miseráveis é no final das contas difícil para quem não está habituado a ver musicais, mas para quem gosta é um verdadeiro prato cheio, trazendo toda a experiência de uma ópera. Nada melhor, afinal, que ver Jean Valjean pela milésima vez resgatar Marius (Eddie Redmayne) da morte certa, não?

Nota: 7/10

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