segunda-feira, 1 de abril de 2013

Crítica: Tomb Raider


O nascimento de uma sobrevivente


Há 17 anos atrás chegava às lojas americanas Tomb Raider, jogo sobre uma arqueóloga de família rica que percorria o mundo em busca de relíquias. Essa versão feminina de Indiana Jones virou um sucesso imediato, marcando uma geração inteira de jogadores e o videogame nos anos 90. Mas depois de 8 títulos e 2 filmes explorando o sex-appeal da personagem, a saga de Lara Croft mostrou sinais de cansaço e envelheceu mal, e na troca de produtora e com o avanço da tecnologia acabou deixando de ser um grande lançamento. Esse é o grande desafio da Crystal Dynamics, que realiza um reboot com a personagem em Tomb Raider, nona aventura de Lara, agora adolescente e indefesa.
E já nos primeiros minutos de jogabilidade percebe-se essa fragilidade da jovem: Depois do navio Endurance naufragar, Lara acorda presa de cabeça para baixo em uma cripta, e quando se solta cai em cima de uma barra de ferro, que a perfura dolorosamente. Essa não é mais a ladra de tumbas determinada vista em 1996, mas sim uma criança assustada sobrevivendo.
Pelo menos parece ser esse o propósito da Crystal Dynamics, que entre alguns deslizes (como uma adolescente de mais ou menos 18 anos consegue carregar tantas armas e ainda em lugares tão escondidos) consolida essa imagem. A construção de Croft durante a história é notável, e ao final vemos o quanto a ilha a mudou, tornando-a a pessoa adulta e decidida dos jogos dos anos 90 (E melhor, sem estereótipos!). O mesmo não se pode dizer, porém, dos personagens secundários, uma sucessão de personalidades clichês (o arqueólogo pop-star medroso, o indígena tranquilo, o irlandês bêbado, etc), atingindo até o vilão da história toda, Mathias, que decepciona como grande ameaça, mesmo com toda a loucura adquirida em tantos anos na ilha.
Durante o jogo é notável o número de referências usados pela Crystal Dynamics para criar essa nova Lara Croft: Do upgrade gradual das armas durante a história de Batman: Arkham Asylum à ilha com toques de mistério direto de Lost, a produtora, aliada à Square-Enix, se aproveitam do já criado e melhoram, dando uma aparência de mecânica nova à aventura. Há também a óbvia comparação com Uncharted, mas ao invés de atrapalhar, a influência do descendente de Tomb Raider na história é benéfica, permitindo uma dinâmica mais cinematográfica ao jogo.
Falando no cenário, o design de Yamatai é um dos pontos altos do game. Apesar do mapa não ser totalmente sandbox, em poucos momentos sente-se as restrições da exploração do jogo. Principalmente em confrontos com hordas de inimigos, que com uma AI bem desenvolvida e constantes adições de diferentes tipos de inimigos exige que o jogador planeje seu ataque com cautela. Os excelentes gráficos aumentam essa imersão, e, aliado às tumbas e equipamento para melhorar suas armas espalhados pela ilha, proporcionam uma experiência prazerosa e viciante.
Mas o calcanhar de Aquiles é o multiplayer. Tedioso e óbvio (Criação de facções, uso de personagens da história, etc.), é notável como esse modo foi criado apenas para suprir a necessidade atual do mercado de todo jogo ter um modo online, mesmo que este não caiba no quadro geral. Principalmente quando parace ter sido feito às pressas.
Houve alguns descuidados, mas no panorama geral a Crystal Dynamics acertou. Além de criar uma nova cara para Lara Croft, a aventura convence e deixa um gostinho de quero mais. Mais importante, reapresenta uma personagem importante dos videogames para uma nova geração em grande estilo. Esperemos que não voltem com os estereótipos.

Nota: 8/10

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