domingo, 9 de junho de 2013

Crítica: Antes de Watchmen - Coruja

Straczynski não se decide e prejudica o andamento da própria história

Entre as várias situações de seus personagens após a aposentadoria forçada, o que mais chama a atenção em Watchmen é a de Daniel Dreiberg, o Coruja. O heroi criado por Alan Moore conseguiu manter uma vida estável após a Lei Keene, mas no começo da graphic novel já demonstra insatisfação com a própria e aponta sinais de depressão. Tudo porque ele simplesmente sente saudades de sua época de vigilante.
Essa necessidade por ação é tão bem explorada por Alan Moore que em Antes de Watchmen: Coruja o roteirista da minissérie J. Michael Straczynski resolveu mostrar como Dan se envolveu tanto no super-heroísmo. Possuindo uma ampla liberdade de criação (já que Moore não mostrou muito do passado do personagem), o autor poderia ter ido por vários caminhos diferentes, mas no final optou por um fraquíssimo e clichê trauma de infância com o pai violento, adaptado ao universo Watchmen: Após bater várias vezes em sua mãe, o homem acaba sofrendo um infarto, não sendo socorrido por ninguém.
A partir daí o jovem Dan, que já havia descoberto a localização do esconderijo do primeiro Coruja Hollis Manson e feito um primeiro contato, é aceito pelo heroi para ser um aprendiz, assumindo o manto após a aposentadoria do mestre. Em sua estréia, Dreiberg conhece o seu futuro parceiro Rorschach, e enquanto combate o crime ao lado do instável companheiro, continua sua relação quase pai-e-filho com Mason, sendo decisivo para a publicação de Sob o Capuz, biografia de seu ídolo de infância e mestre.
Toda essa trama poderia ter sido bem explorada nas quatro partes da minissérie, mas tudo acaba sendo deixado de lado em prol de uma história de amor entre o Coruja e a Dama do Crepúsculo, vilã com aparição rápida na graphic novel. Bem fraca, esse relacionamento, engajado por uma série de assassinatos de prostitutas, tenta provar ao leitor que o heroi é humano e falho em questões amorosas, mas serve para apenas atestar algo já bastante esclarecido em Watchmen através do caso que ele e a Espectral tem na história. Até um possível conflito psicológico de Dan entre o dever e a emoção é subaproveitado, perdendo espaço para os ótimos debates entre Rorschach e o reverendo Dean.
A situação do roteiro só piora quando se tenta a todo custo juntar essa péssima história de amor com o desenvolvimento do passado do Coruja, que já havia sido deixado de lado no final da primeira edição. A junção das duas partes acaba prejudicando ainda mais a qualidade do prelúdio, criando conexões péssimas e muitas vezes sem sentido. As artes de Joe e Andy Kubert revelam essa mesma indecisão, oscilando entre desenhos detalhados e traços quase que rabiscados de tão mal feitos, tendendo muitas vezes para esse último.
Esses altos e baixos deste primeiro prelúdio de Watchmen no Brasil acabam sendo reflexos da própria personalidade de Daniel. Apesar de ser bastante interessante, não convence ninguém, chegando a deixar entediado até o maior fã do universo criado por Alan Moore, e perde espaço para seu parceiro até em sua própria história. Resta torcer agora para os próximos herois reais e problemáticos não serem levianamente explorados como feito com este.
Nota: 5/10

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