quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Crítica: Antes de Watchmen - Dr. Manhattan

O gato de Schröndinger nos quadrinhos

Por Pedro Strazza

Em vários momentos da vida, somos forçados a tomar decisões. Das mais bobas às mais complexas, essas escolhas definem o nosso rumo e caráter, além de alterarem as relações com pessoas mais próximas e queridas. Mas sempre sobrará aquela pequena dúvida sobre o caminho não tomado e em seus desdobramentos e consequências. Deveria tê-la pedido em casamento? O que aconteceria se fosse à festa? E se nunca tivesse o conhecido? Se já é difícil pensar no peso de nossas ações, imagine nas de um homem com poderes de deus.
Essa é a grande proposta de Antes de Watchmen: Dr. Manhattan, prelúdio da obra de Alan Moore dedicado ao ser azul e filosófico. Consequência de um acidente de laboratório, os vastos poderes de Jonathan Osterman são deveras poderosos para o filho de relojoeiro, que depois de voltar sua mente até antes de seu nascimento cria uma infinidade de universos paralelos, por onde enxergará todos os destinos de todas as possibilidades possíveis em sua vida, incluindo aí a sua desintegração e criação. Correndo sérios riscos de morte, cabe ao herói então corrigir a situação antes que seja tarde demais.
Por mais confusa que pareça, a trama da minissérie é uma de suas melhores qualidades. Envolvendo vários destinos, a história poderia facilmente ter incoerências e erros de continuidade durante sua trajetória, mas a experiência do escritor J. Michael Straczynski com sua série Babylon 5 evita esse problema tranquilamente. Há ressalvas, porém, ao final do quarto e último capítulo, cuja ligação com a graphic novel é esquisita e notavelmente forçada.
Mas os mundos paralelos criados por Straczynski não seriam nada sem a diagramação das artes de Adam Hughes. Apesar do desenho mais regular em comparação a outros artistas, a dupla faz esquematizações ousadas para uma minissérie mensal, e torna a tarefa de encontrar as diferenças entre os diferentes destinos de cada escolha uma diversão à parte para o leitor.
O ponto mais forte da HQ são porém as relações do Dr. Manhattan com o mundo à sua volta. Perito em criar novas visões para heróis clássicos (como o Homem-Aranha ou o Superman), Straczynski remodela um pouco da falta de humanidade do personagem, obviamente respeitando a criação de Moore, que agora procura entender mais da civilização e suas emoções enquanto se torna um observador das várias realidades criadas por ele. O momento mais interessante nessa "interação" é a exploração, ainda que pouco profunda, do passado de Jon com seu pai, fato inédito na cronologia.
Depois de ter errado feio com o prelúdio do Coruja, Straczynski dá a volta por cima em Antes de Watchmen: Dr. Manhattan. Os dilemas do poderoso personagem e a exploração de sua personalidade acabam por ser excelentes ferramentas para criar no heroi uma empatia com seu público leitor, que tem o privilégio de ver a evolução de Jon enquanto enxerga as várias realidades de um mesmo universo amado. Ao final da leitura, mesmo com uma precipitada conexão com a graphic novel, fica aquele gostinho de "quero mais" por mais aventuras de um dos homens mais poderosos dos quadrinhos (e talvez do mundo pop) e talvez com um dos melhores prelúdios dessa clássica obra que é Watchmen.
Nota: 9/10

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