segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Crítica: Elysium

Cometendo os mesmos erros, agora com maior intensidade



Por Pedro Strazza

De todos os diretores de longa-metragens de ficção científica, Neill Blomkamp é talvez o mais sortudo. Em gênero considerado difícil de se alcançar sucesso na bilheteria, o sul-africano conseguiu, com uma pequena ajuda do "padrinho" Peter Jackson, atingir tal meta já em Distrito 9, sua estréia na telona. O filme, que mostra o que aconteceria se uma população alien desnutrida chegasse à Terra, conquistou a crítica com seus paralelos constantes ao apartheid ocorrido na África do Sul, ainda sofrendo as consequências dessa segregação racial, e o público pela trama envolvente.
Agora, quatro anos e uma indicação ao Oscar depois, o diretor lança Elysium, outro longa de ficção científica com as mesmas abordagens da ampla desigualdade social vivida em seu país de nascimento. Na trama, a poluição e o crescimento da população desvairados levam a população mais rica a construir e mudar-se para uma estação espacial chamada Elysium, onde podem viver confortavelmente enquanto as camadas mais pobres sofrem com as consequências.
Esse mundo onde a riqueza manda é o ponto alto da película. Como visto em Distrito 9, Blomkamp sabe muito bem compor seu pano de fundo onde sua história irá ocorrer, e aqui faz com especial primor. Dos prédios completamente deteriorados e repletos de reformas às fábricas onde poucos cidadães trabalham, tudo aponta para os problemas decorrentes do excesso de pessoas no planeta, como o absurdo contigente populacional abaixo da linha de miséria. Essa situação é captada com crueza pela lente do diretor, que mesmo utilizando da mesma fotografia de seu filme anterior consegue ainda manter um visual singular.
Esse cenário torna-se ainda mais eficiente com a introdução de atores latino-americanos e africanos ao elenco. Habituados com esse cenário desolador em seus países natais, o sul-africano Sharlto Copley (amigo pessoal de Blomkamp), o mexicano Diego Luna e os brasileiros Wagner Moura (em ótima estréia no cinema norte-americano) e Alice Braga conferem mais personalidade a seus personagens, dotando-os de carisma e ficando à altura das atuações poderosas e habituais de Jodie Foster e Matt Damon. Destaque para Copley e Moura, que piram em seus perfis de mercenário maluco e líder dos revoltosos, respectivamente.
Mas se no contexto e na escolha de elenco acerta-se em cheio, Elysium se precipita no roteiro e seu desenvolvimento. Blomkamp comete aqui os mesmos erros de seu longa anterior, como a necessidade de uma jornada do herói na última meia hora de película, o final falsamente hollywoodiano ou o clímax sem emoção, mas em maior intensidade. Sem esses elementos fundamentais, a trama acaba frustrando (e muito) o espectador com falsas expectativas e mau uso de itens daquele universo, como os cyborgues, que deixam de mostrar funcionalidade antes da metade do longa, além de não carregarem com força as cenas de ação.
É notável como Elysium possui um incrível potencial, com seu interessante universo ou o elenco bem construído, mas se desperdiça em tramas nulas e sem aprofudamento. Se tivesse seguido outro caminho, o roteiro de Blomkamp poderia ter almejado virar um clássico da ficção científica moderna. Pena que ficou só no "poderia".
Nota: 6/10

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