quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Crítica: Vingadores vs. X-Men

Caos e esperança no fim de uma era nos quadrinhos

Por Pedro Strazza

Desde que assumiu o controle criativo sobre a histórias dos Vingadores, Brian Michael Bendis esteve sempre disposto a colocar a vida dos super-heróis mais poderosos do planeta de cabeça para baixo. Começando em 2004 com A Queda, onde toda a equipe comandada pelo Capitão América teve de ser substituída, o escritor ainda colocou e tirou Norman Osborn do controle da agência de segurança mundial para logo em seguida instaurar uma "era heroica" na editora. Bendis ainda esteve envolvido em arcos de narrativa durante a Guerra Civil e a Essência do Medo, onde mesmo não no comando continuou a sugerir ideias para os roteiristas responsáveis.
Depois de quase uma década de convivência com personagens como Homem de Ferro, Capitão América e Thor, Bendis queria escrever histórias sobre novos heróis do Universo Marvel, mas para isso precisava encerrar sua passagem pelos Vingadores com chave de ouro, além de corrigir o caminho dos X-Men na editora. Famosos nos anos 90, os mutantes vinham correndo risco de extinção desde o fim da mega-saga Dinastia M, escrita pelo próprio roteirista. Ao lado de Jason Aaron, Ed Brubaker, Matt Fraction e Jonathan Hickman, Bendis resolve ambas as questões com um grande conflito entre os alunos de Charles Xavier e os outros heróis em Vingadores vs. X-Men.
A trama é bem simples: A Fênix, força cósmica de poder e destruição imensuráveis, está voltando para a Terra, e divide as opiniões dos dois grupos. Enquanto o Capitão América e seus comandados acreditam que a entidade vai destruir a Terra inteira, os mutantes, liderados agora por Ciclope, veem nela a salvação de sua espécie. O cerne da questão é Esperança, a última pessoa a nascer com o gene X e profetizada como a salvadora de sua comunidade.
A partir daí a porrada rola solta nas doze edições da saga. as duas equipes confrontam-se repetidas vezes pela posse da menina, em brigas dignas das páginas de uma revista dos anos 70 ou 80. Os desenhos, alternados entre Adam Kubert, Olivier Coipel e John Romita Jr., aproveitam-se desse potencial para encher os olhos do espectador com cenas até então vistas apenas na mente dos leitores. Brigas entre heróis como Coisa e Namor ou Homem de Ferro e Magneto alternam-se com quadros repletos de socos e poderes entre os personagens em um espetáculo visual digno de ser filmado futuramente para os cinemas.
O desenvolvimento da história também merece grande destaque. Podendo facilmente cair em clichês e tramas desinteressantes, Vingadores vs. X-Men recebe tratamento especial na mão da equipe de roteiristas escalados, que desenrolam o quebra-pau para questões interessantes, como o uso indevido do poder ou o medo (aqui muito melhor utilizado em relação à péssima saga A Essência do Medo), entre os heróis. Não é à toa que após uma extensa duração a saga mantenha-se interessante para os leitores.
Conforme vai se encerrando, porém, Vingadores vs. X-Men aos poucos mostra o seu verdadeiro intuito. É notável o clima de transição presente nas duas últimas edições da história em meio ao final grandioso e destrutivo, e sua ligação com a longínqua Dinastia M só ratifica isso. É quase como uma carta de adeus de Bendis, que prepara devidamente o terreno para a reformulação da Marvel de maneira épica e esperançosa. As últimas páginas, em quadros similares ao de uma câmera 9mm, prenunciam uma nova era nos quadrinhos da editora, e encerram de maneira digna (mesmo que não à altura de Guerra Civil, ainda o expoente da Marvel nos anos 2000) uma grande fase deste universo tão amado e rico.
Nota: 9/10

0 comentários :

Postar um comentário