quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Crítica: Kick-Ass 2

Sangue, tripas e (muita) porrada na sequência de Kick-Ass

"E se super-heróis existissem na realidade?" é talvez um dos questionamentos  mais explorados por escritores e roteiristas até hoje. Depois da explosão de sucesso que os quadrinhos norte-americanos com pessoas superpoderosas sofreram entre os anos 30 e 50, milhões de leitores de personagens como o Superman ou o Capitão América começaram a fazer esta pergunta a si mesmos, imaginando a dinâmica do dia-a-dia destes mocinhos em um mundo tão desigual e conturbado. Foi a partir daí que obras primas dos quadrinhos começaram a surgir ao longo dos anos, tais como Watchmen ou, mais recentemente, Kick-Ass.
Este último, que contava a violentíssima história de um garoto saindo às ruas fantasiado sem nenhum preparo, ganhou na época tanta repercussão entre a crítica e o público que, mesmo com a adaptação aos cinemas fracassando financeiramente (apesar de excelente qualidade), o escritor Mark Millar resolveu continuar a trama do jovem Dave Lizewski em Kick-Ass 2. Na trama da sequência, o adolescente, após derrotar a máfia junto à pequena Hit-Girl, vê o movimento do super-heroísmo crescer nas ruas com a aparição de vários mascarados, e enquanto forma com esses novos companheiros uma superequipe o seu antigo amigo e agora vilão Motherfucker (ex-Red Mist) volta para Nova York com planos malignos.
No meio de todo esse roteiro megalomaníaco desenvolvido nas páginas da minissérie, a violência corre solta em rios de sangue. Conhecido por uma brutalidade exarcebada, Millar consegue aqui atingir níveis ainda maiores de sanguinolência em relação ao primeiro capítulo, podendo facilmente deixar o leitor mais incauto em choque e o fã mais vibrante de Kick-Ass em polvorosa com as cenas retratadas pela arte de John Romita Jr., dessa vez mais organizado em seus traços que no prelúdio estrelado por Hit-Girl.
Poucas, porém, são as que realmente importam para a trama, prejudicando-se substancialmente o próprio andamento da história. A sequência onde se sugere um estupro coletivo e a batalha final na Times Square, por exemplo, são completamente inúteis ao caminho dos personagens, servindo apenas para impressionar e levar ao delírio os "adoradores" da obra do escritor. Não é à toa que Hit-Girl dessa vez seja um pouco diminuída nessa sequência, pois simplesmente não há mais impacto de sua presença e habilidades espetaculares.
Quem também não ajuda é o Motherfucker, provavelmente o vilão mais bobo e sem graça da história dos quadrinhos. Além de gastar rios de dinheiro em uma estranha cruzada contra o super-heroísmo, o personagem gera incongruência em sua principal motivação para tudo aquilo: Se sua relação com o pai já não era tão forte em Kick-Ass, pra que apoiar uma vingança a Lizewski pela morte do mesmo? Não é à toa que em um momento da minissérie Dave se pergunte o porquê de tudo aquilo.
Mas se no antagonista e no uso da violência Kick-Ass 2 deixa um pouco a desejar (menos, novamente, para os fãs), o desenvolvimento da personalidade do protagonista é brilhante. Agora mais atencioso de suas ações como super-herói, Lizewski precisa aprender a agir como tal, e, na figura do Coronel Stripes, consegue entender finalmente que ser um mocinho não envolve apenas socos e chutes como também ajudar os pobres e oprimidos pela sociedade. Mesmo sendo explorando rasamente, esse arco é um passo fundamental na narrativa da franquia Kick-Ass pois ilustra uma situação amplamente utilizada pelos "combatentes do crime" da vida real, que praticam essas mesmas ações em seus dia-a-dias.
Enquanto obra de ação, Kick-Ass 2 pode vir a ser julgado como exagerado. Não são poucos os casos onde a banalidade da violência é visível, e apenas os fãs aceitarão com felicidade isso. Há ainda em teoria mais uma minissérie sobre o personagem e, agora, sua legião de seguidores no heroísmo, e o final extremamente aberto sugere que há um raciocínio por trás de todo o absurdo ocorrido nesta sequência. Esperemos, porém, que Millar não encerre uma franquia iniciada com tanto primor em um banho de sangue pra lá de infantil e doentio (no melhor sentido possível, claro).
Nota: 7/10

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