segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Crítica: Thor - O Mundo Sombrio

Nova aventura do herói nos cinemas se vale como entretenimento puro para agradar o público e os fãs

Por Pedro Strazza

Desde que os filmes de super-heróis voltaram com tudo na cultura pop, nesse início do século XXI, é notável a divisão do gênero em duas vertentes cinematográficas: De um lado, postam-se as produções que procuram a todo custo ambientar seus personagens em um mundo mais realístico, como a excelente trilogia do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan ou O Incrível Hulk; do outro, um grupo de filmes com o objetivo de emular o ritmo e a diversão das épocas da Era de Prata e de Ouro nos quadrinhos, cujo pé na realidade é em vários casos raso ou praticamente inexistente.
Desses dois caminhos, a Marvel Studios aos poucos foi caindo pelo segundo, assumindo essa posição no ano passado com Os Vingadores, longa que fechou com chave de ouro a dita "primeira fase" do estúdio na concepção cinematográfica do universo da Casa das Ideias. Agora, na segunda parte desse projeto audacioso, a empresa está aplicando essa linha de raciocínio às aventuras solos de seus personagens, e o maior exemplo dessa iniciativa é este Thor - O Mundo Sombrio. Apesar de manter algumas das características do longa de 2011 (sejam estas boas ou ruins), a sequência protagonizada pelo Deus do Trovão apresenta profundas diferenças com o original - conseguindo nesse processo resultados bastante diferenciados.
A mais interessante dessas alterações se dá em torno da relação de Thor (Chris Hemsworth) e Loki (Tom Hiddleston). A dinâmica teatral e shakespeariana adotada por Kenneth Branagh no primeiro filme é deixada de lado no Mundo Sombrio em prol de uma situação conflituosa estabelecida entre os dois meio-irmãos nos efeitos da Batalha de Nova York e a formação de uma parceria deveras inusitada e perigosa. Afinal, o foco da produção dirigida por Alan Taylor não mais é o drama dos parentes rivais, e sim a ação voltada para a ameaça causada pelo retorno de Malekith, o Maldito (Christopher Eccleston), que promete aqui deixar toda a Árvore da Vida nas trevas.
É nesse momento que interessantemente se sente com maior força o conteúdo mais leve da película. Talvez pela falta de ameaça na figura do principal antagonista, talvez pelo tom mais baseado nos quadrinhos adotado na produção, não se sente em momento algum um clima mais pesado nas situações apresentadas, tirando grande força do título do filme. Não que isso signifique, porém, um uso abusivo de alívios cômicos e piadinhas mal-ajambradas na continuidade. Pelo contrário, vê-se em O Mundo Sombrio um excelente ritmo, alternando com precisão momentos dramáticos e engraçados (Coisa que Homem de Ferro 3, por exemplo, não soube fazer).
A ação também não deixa a desejar. Vindo do comando de episódios de séries como Game of Thrones e Roma, o diretor Alan Taylor bebe de várias fontes e aproveita o cenário mitológico dos quadrinhos (o longa passa quase 90% do tempo em Asgard) para compor os momentos de pancadaria, ajustando um dos principais defeitos do primeiro filme. Das batalhas aéreas de naves (lembrando bastante as de Star Wars) à troca de sopapos entre os exércitos de Thor e Malekith, cria-se aqui um novo aspecto para a franquia do herói, podendo ser utilizado para as vindouras sequências.
Taylor também soube aqui utilizar com maior equilíbrio o seu elenco disponível. Personagens como Heimdall (Idris Elba), Frigga (Rene Russo) e Lady Sif (Jaimie Alexander) finalmente ganham um maior destaque e uso na trama, mesmo que ainda em menor grau quando em relação ao trio formado por Odin (Anthony Hopkins, novamente espetacular no papel), Thor e Loki.
Mas há ainda o uso de problemas do original. A trapaça clara do roteiro em, por exemplo, situar a invasão dos Elfos Negros à Midgard no mesmo local onde estava escondido um dos elementos mais importantes da aventura e o uso contínuo do núcleo terrestre formado por Jane Foster (Natalie Portman), Darcy (Kat Dennings) e Erik Selvig (Stellan Skarsgård) como alívio cômico prejudicam o andamento da história, mesmo que em menor grau.
Mesmo não sendo o melhor exemplar da atual leva de filmes de super-herói, Thor - O Mundo Sombrio consegue pelo menos atingir seu objetivo de conferir a seu protagonista um tom mais bem lapidado à sua franquia, encaminhando-o devidamente para os eventos da próxima aventura dos Vingadores. A grande conquista da produção, porém, é o resgate do clima mais divertido dos quadrinhos dos anos 60 da Marvel, que diverte sem medo seu público neste longa e finca cada vez mais fundo a bandeira de saudosismo em suas produções, seja nos quadrinhos ou na tela grande.
Nota: 7/10

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