segunda-feira, 10 de março de 2014

Crítica: Até o Fim

Redford entrega atuação de destaque em filme sobre sobrevivência

Por Pedro Strazza

As histórias de náufragos sempre exerceram no público grande atração. De Robinson Crusoé ao Pi (de As Aventuras de Pi), esses sobreviventes do alto-mar passam pelos maiores problemas em um ambiente claramente hostil à sua presença - Seja este uma ilha ou o próprio oceano. Mas mesmo que possuindo os perfis mais diferentes possíveis e trilharem os caminhos mais diversos para sair dessa situação, dois sentimentos os unem em prol de cumprir o objetivo: A esperança e o empenho.
Até o Fim é um filme que também não escapa a essa condição inerente do gênero. Seu protagonista, assim como qualquer um que se encontre na situação apresentada, dedica-se ao máximo para salvar seu navio (e sua vida, consequentemente) do naufrágio - causado por um rombo aberto no casco quando a embarcação choca-se com um contêiner perdido no mar. Mas o que difere este segundo trabalho do diretor J. C. Chandor das outras produções é justamente o caráter alegórico que seu personagem principal (Robert Redford) ganha no decorrer da obra.
O perfil deste protagonista e suas motivações para estar isolado no meio do mar desconhecidas são, assim como sua identidade, desconhecidas. E não importam muito aqui, para dizer a verdade. Ainda que forneça pistas para seu passado, o roteiro de Chandor não se esforça em analisar a vida de seu personagem, mas sim em mostrar suas ações e determinação para sobreviver em meio ao caos que a natureza o proporciona, frustrando cada tentativa sua de consertar o barco ou de escapar da solidão.
Este isolamento do marinheiro causa outra característica bastante peculiar na produção: A ausência quase total de diálogos. Raríssimo no gênero - que procura sempre encontrar alguma espécie de entidade material (Richard Parker em As Aventuras de Pi) ou imaterial (Wilson em O Náufrago) para tirar um caráter mais monótono da obra -, esse aspecto serve com excelência ao filme tanto em seu aspecto técnico como artístico. Se por um lado o silêncio providencia ao espectador a sensação que o protagonista vive ali (auxiliado por uma captação e mixagem de som fantásticos), este também cria uma sensação de estranhamento quando o personagem procura se comunicar pelo rádio ou simplesmente gritar de ódio pela sucessão de azar.
Mas quem mais se beneficia desta característica é de fato o próprio ator, peça-chave para o longa. Sem possuir um dos principais atributos de seu ramo no filme (a voz), Robert Redford mais uma vez se prova como um ator versátil e competente, criando simpatia junto do espectador na jornada de seu personagem. Mais incrível, porém, é sua capacidade de transmitir emoções usando, na esmagadora maioria do tempo, apenas de seu corpo e (principalmente) rosto, que apresenta todas as marcas e rugas de seus 77 anos.
A força psicológica do protagonista em manter-se firme diante da possível inevitabilidade da morte (cada vez mais próxima a cada tempestade) e a maneira como o roteiro e a direção de Chandor guiam a história, além da atuação magnífica de Redford, fazem deste Até o Fim uma obra peculiar acerca de um tema talvez tão óbvio ou batido. E por mais simples que a proposta desse filme pareça, o longa possui uma profundidade tão grande quanto as águas que parecem querer puxar o homem mais e mais para baixo.

Nota: 10/10

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