domingo, 2 de março de 2014

Crítica: Philomena

Um curioso longa sobre o amor entre mãe e filho

Por Pedro Strazza

O pecado é um assunto dos mais importantes e interessantes em qualquer religião. A noção de desrespeito a um preceito religioso e, portanto, à lei de seu Deus pode variar bastante entre culturas como a cristã, a muçulmana ou a hebraica (e, ainda, em suas respectivas ramificações), devido à diversidade de religiões existentes no mundo - Principalmente no panorama atual de um mundo cada vez mais globalizado. Uma afirmação, entretanto, é comum à todas: Se a pessoa quebrou uma das leis divinas estabelecidas, ela deve ser punida. E essa sentença envolve uma gama bem maior de opções.
No caso de Philomena (Judi Dench), a penitência foi das maiores e piores. Engravidada aos 18 anos por um desconhecido que conheceu (e se apaixonou) em um parque de diversões, ela foi abandonada pouco tempo depois na abadia de San Ross pelo próprio pai, sob a justificativa de ter envergonhado a família. Vivendo uma vida difícil e trabalhosa no local, a garota acabou perdendo o filho meses depois para a adoção, pois Philomena assinou, contra a sua vontade, um contrato que tirava a criança de seu poder. De posse apenas de uma foto de seu Anthony, Philomena começou, em meio à sua vida e rotina, uma busca pelo filhote perdido no momento em que saiu do convento sofrendo silenciosamente a cada dia que passava.
Cinquenta anos depois do início dessa procura, em 2004, o jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan), em crise devido a uma problemática saída de seu último emprego, encontrou Philomena e sua história, e se dispôs a ajudar a mulher, agora idosa, nessa jornada. Agora, o diretor Stephen Frears adapta para as telas a busca dessa dupla por Anthony, retratando com sensibilidade e leveza temas polêmicos ao mesmo tempo.
O que separa este Philomena de outras várias "dramédias" do gênero é justamente o foco de Frears no relacionamento desenvolvido pelo jornalista e a aposentada e na revelação, através de pequenas ações, da real e densa figura da última, sem cair porém nos clichês hollywoodianos de sempre - que estão sempre à espreita de aparecer aqui. O contraste de personalidades entre Martin, um homem ateu, desesperançoso e irônico, e Philomena, uma mulher religiosa, bem-humorada e viva, é extremamente alto, o que gera no longa diversos momentos de conflito ideológico entre os dois, como a ótima e rápida discussão sobre a definição de sexo como pecado.
A figura de Philomena é, entretanto, o grande destaque da produção. Mostrando-se ser por fora uma velhinha simpática e ingênua, ela apresenta, ao longo da jornada, características bastante profundas de sua personalidade, como a tolerância com o homossexualismo ou a capacidade de perdoar. Essa desconstrução da protagonista ganha ainda mais força com a atuação de Judi Dench, que encarna a determinação e religiosidade de sua personagem com esmero e cuidado.
Essas duas bases sólidas e honestas, além da já mencionada leveza da produção, dão ao filme um aspecto que pode ser inicialmente considerado como bobo e fraco por aqueles que o veem. Os temas de Philomena e a atuação de Dench, porém, criam uma profundidade interessante à história e aos temas abordados, e tornam o longa ainda mais curioso e delicado.

Nota: 7/10

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