domingo, 30 de março de 2014

Crítica: Tudo por Justiça

Diretor comete mesmos erros e acertos de trabalho anterior


Por Pedro Strazza

Iniciando sua carreira como diretor em 2009, Scott Cooper demonstrou com Coração Louco, seu primeiro trabalho, um curioso olhar sobre a cultura interiorana dos Estados Unidos, mais especificamente no lado musical, através da figura problemática do cantor decadente Bad Blake, cujo papel rendeu ao ator Jeff Bridges seu primeiro Oscar. Pela lente da câmera, Cooper não só retratava ali o quão destruído a vida de seu protagonista estava como também assistia uma certa decadência dos valores da cultura redneck americana no qual o longa se inseria.
Essa visão um pouco pessimista do diretor sobre essa sociedade estadunidense é novamente utilizada por este em Tudo por Justiça, seu segundo filme autoral. Aqui, Scott abandona a música country para abordar os valores e normas de conduta do interior do país, mas usa da mesma estrutura de Coração Louco para filmar a história de Russell Baze (Christian Bale), seu novo protagonista, na trama de "vingança" do longa. Operário esforçado e marido fiel, Baze é um homem que tem uma vida bem estabelecida e responsável, procurando se manter fora de confusões e tentando ajudar o irmão problemático Rodney (Casey Affleck) e o pai extremamente doente. Quando, porém, causa um acidente de carro e é preso por ter matado inocentes neste desastre, sua vida muda por completo, e seus pilares de sustentação vão sendo, um a um, destruídos: A mulher (Zöe Saldana) pede o divórcio, o pai falece (e sem se despedir de Russell) e o irmão começa a participar de um esquema de aposta de lutas na cidade.

Essa quebra da vida de Russell e a constatação do próprio deste acontecimento é decerto o ponto mais interessante da produção. Através da atuação necessariamente bruta, mas ainda sim tocante de Bale - que aqui prova mais uma vez sua indubitável qualidade artística -, o espectador testemunha a derrocada do protagonista em momentos pontuais e amargurantes para este, como nos primeiros encontros com a ex-mulher após a prisão, nos diálogos que ele tem com Rodney ou no momento em que recebe a notícia da morte do pai. Nesta última, é perceptível a delicadeza do ator em construir uma performance gradativamente desesperadora para depois, quando visita o túmulo do pai, mudar esta postura para uma mais respeitosa e de aceitação do fato.
Mas mesmo que sem perspectivas ou objetivos, Russell mantém a mesma atitude responsável de antes de ser preso, procurando evitar o mesmo estilo de vida brutal e autodestrutivo de Rodney - Um personagem que claramente poderia ter sido melhor desenvolvido pelo roteiro de Cooper e Brad Ingelsby. Essa atitude se altera, entretanto, quando o irmão desaparece depois de lutar na comunidade caipira comandada por Harlan DeGroat (Woody Harrelson) e a polícia mostra que não conseguirá fazer nada sobre o assunto, ativando em Russell uma necessidade de justiça não somente por Rodney, mas também por toda a recente e desastrosa trajetória pessoal.
Esse conceito é deveras interessante, mas acaba não funcionando como deveria para o longa. Tudo por Justiça falha ao não criar no espectador um laço mais forte com seu protagonista e as pessoas que ele ama, tornando as situações e as consequências de certas ações menos pesadas que elas são ou deveriam ser. E se não fosse pelo elenco estrelado, mas mal utilizado (Só observar a irrelevância do policial vivido por Forest Whitaker, por exemplo), é bem provável que o roteiro não funcionaria.
Outro defeito claro (e similar aos vistos em Coração Louco) é a construção de personagens extremamente importantes à trama. Mesmo que atuando bem, a Lena de Zöe Saldana e o DeGroat de Harrelson soam superficiais e unidimensionais na maioria do tempo. Este problema se agrava ainda mais para o último, que, por ser o "grande vilão" da trama, perde ao ser esvaziado de uma maior importância e originalidade no roteiro - a cena inicial no drive-in por exemplo, é dispensável ao apenas apresentar sua violência e nada mais.
Sem esses elementos vitais, Tudo por Justiça acaba por perder grande força de sua intensidade emocional para com o público, o que por sua vez acaba com grande parte dos objetivos do longa. Ainda sim, o segundo trabalho de Cooper encontra redenção com o desenvolvimento de seu protagonista, que sozinho torna todo o clímax final da produção em algo a mais além de uma singela justiça.


Nota: 6/10

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