segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Crítica: Chef

Aliado à gastronomia e a música, Jon Favreau fala sobre a própria vida em novo filme

Por Pedro Strazza

Até o momento, o caminho tomado pelo comediante Jon Favreau como diretor não saiu tanto dos moldes clássicos. Inicialmente dirigindo trabalhos para a televisão, o comediante fez sua estréia nas telonas com filmes de baixo orçamento como Crime Desorganizado e Um Duende em Nova York, e, progredindo com certo sucesso entre público e crítica, acabou sendo responsável pelos dois primeiros capítulos da franquia Homem de Ferro, blockbusters que jogaram seu nome para o estrelato. Mas Favreau, descuidado devido à fama, errou a mão feio no grotesco Cowboys & Aliens, e, massacrado por tudo e todos, teve que recomeçar sua carreira de direção com algo mais simples.
Sob este aspecto, Chef, o nome desse projeto de reinício, possui todos os elementos e clichês de uma produção com tais objetivos. De orçamento pequeno e com roteiro simples - escrito por Favreau, que também produz e protagoniza seu novo trabalho de direção -, a aparentemente leve comédia gastronômica apresenta porém uma fina segunda camada, escondida por um diretor que usa com inteligência desta para transformar a trama superficial em um desabafo sobre sua carreira até aqui, sem contanto esquecer do perfil raso da história a ser contada.
Não à toa, portanto, que a vida do personagem vivido por Favreau remeta tanto a do próprio ator: Além de viver do sucesso de um passado não tão distante e estar separado de sua mulher e filho, o chef Carl Casper trabalha em um restaurante onde suas habilidades criativas culinárias não são postas à prova em nenhum momento - e para o dono (Dustin Hoffman), estas nunca precisarão. Frustrado, o mestre cozinheiro tem seu rumo mudado quando um famoso crítico gastronômico (Oliver Platt) escreve uma péssima resenha sobre sua comida, fazendo com que ele, após sofrer uma explosão emocional na internet, tenha que mudar sua vida radicalmente.
Em Chef, Favreau estrutura o filme em duas partes visivelmente distintas: Na primeira, dedica-se a apresentar o protagonista, as pessoas que o circundam e seu amor pela gastronomia - prática esta fotografada com verdadeira admiração por Kramer Morgenthau. A culinária, por sinal, é um elemento que junto com a música marca presença na narrativa. Em pouquíssimas cenas não vemos um prato sendo preparado e desgustado ou uma música tocando no fundo.
A segunda metade do filme, por outro lado, se dedica em, à partir do formato de um típico road-movie e com a culinária como pano de fundo, explorar o protagonista e suas falhas como pessoa e pai a partir do relacionamento que tem com seu filho (Emjay Anthony). O desenvolvimento desta relação parental, entretanto, é retratada no longa com certa simplicidade, expondo em consequência todo o problema que o roteiro tem no desenvolvimento dos personagens secundários. Construção típica do humor de stand-up, esta superficialização dos coadjuvantes cria deficiência no relacionamento destes com o protagonista por subvertê-los aos desejos e vontades de Casper - algo muito estranho se pensarmos, por exemplo na ex-mulher vivida por Sofía Vergara e sua simpatia exagerada por Casper.
Mas mesmo com este grave problema de roteiro Chef encanta pela simplicidade e, ao mesmo tempo, pela profundidade. Com o humor orgânico de Favreau afiado e bem distribuído ao longo da história, o filme cria, em sua narrativa deliciosa e musicalmente elaborada, um belo retorno do diretor às comédias leves e sem muitas pretensões, ainda que agora contenham uma centralidade importante e disfarçada. O prato final pode ter errado em alguns ingredientes, mas acerta no resultado geral.

Nota: 7/10

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