segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Crítica: Operação Big Hero

Animação é previsível em suas escolhas, mas promove união eficaz de dois mundos

Por Pedro Strazza

Faz pouco mais de cinco anos que a Disney comprou a Marvel Comics e só agora o maior pesadelo dos críticos à venda da companhia na época se concretizou. A animação Operação Big Hero, afinal, marca a primeira parceria artística entre a empresa de Mickey Mouse e a Casa das Ideias, reformulando para as telas um esquecido supergrupo japonês das páginas da editora - o Big Hero 6 do título em inglês. E para o desespero daqueles analistas, o longa prova, mesmo que com algumas ressalvas, o quão acertado foi a decisão da Marvel em ser comprada pelo estúdio.

Isso porque o filme carrega em seu esqueleto uma mistura de sucesso do melhor dos dois mundos, e os equilibra com precisão. Estão lá a bem-humorada história "simples mas profunda", os personagens carismáticos e o design de produção estupendo típicos dos maiores trabalhos da empresa de Walt Disney, alinhados às características conhecidas (e popularizadas nos longa-metragens) dos quadrinhos onde se originaram o Homem de Ferro, Thor, Capitão América e etc, como o visual marcante (tanto nos indivíduos como no cenário) ou a ação dinâmica.

A trama gira em torno de Hiro, um garoto brilhante na área de tecnologia que aplica seus vastos conhecimentos nos proibidos ringues de lutas de robôs da cidade San Fransokyo. Essa rotina clandestina do jovem, porém, muda a partir do momento em que o irmão Tadashi o influencia a tentar entrar em uma universidade ao apresentá-lo ao centro de pesquisa de robótica que trabalha e a seus colegas, os estudantes Go Go, Wasabi, Honey Lemon e Fred. Mas quando Tadashi morre em um incêndio suspeito e um misterioso vilão planeja dominar a cidade com nano-robôs, Hiro, seus mais novos amigos e Baymax, o afetuoso robô do irmão, precisam se transformar em heróis para impedir o plano do vilão.

Ainda que o tenha citado apenas no final do parágrafo anterior, Baymax é aqui o personagem com maior destaque. Sua figura rechonchuda e desajeitada é usada pelos diretores Don Hall e Chris Williams para tanto dar o tom de humor à história - as melhores piadas surgem de sua ingenuidade com o mundo e excesso de afeto, como bem esclarece o momento em que está com pouca energia e precisa ser silencioso - como para evidenciar a relação profunda entre o protagonista e o falecido Tadashi. É daí que a produção mostra seu maior foco narrativo, tocando em temas como a da vida após a morte do próximo e o amor entre irmãos - e nesse momento é inevitável a comparação com Frozen - Uma Aventura Congelante, animação antecessora também interessada neste último assunto.

A profundidade no conteúdo do filme, entretanto, termina em uma superfície semelhante à de sua narrativa, que cumpre somente com o básico das histórias clássicas de super-heróis. Do começo ao fim, o longa segue uma trajetória de extrema previsibilidade, e não consegue surpreender mesmo no timing de suas reviravoltas. Além disso, os personagens secundários encontram-se totalmente submetidos aos intentos do protagonista e do roteiro escrito por Jordan Roberts, Daniel Gerson e Robert L. Baird, e seus perfis individuais, visando apenas a rápidos alívios cômicos, são estereotipados ao máximo - no grupo formado por Hiro, por exemplo, temos o nerd (Fred), a descolada (Go Go), o sensível (Wasabi) e a patricinha (Honey Lemon).

Mas mesmo com pouco aprofundamento criativo a produção consegue cativar, e isso que mais importa a ele. Com visual rico e equilibrado em cores e personagens de carisma capaz de ocultar seus claros defeitos criativos, Operação Big Hero funciona como diversão ingênua, e entretém por sua tendência ao simples. Mais um acerto na nova fase vivida pela Disney em suas animações, e um grande considerando a origem de seu material.

Nota: 7/10

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