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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Crítica: Muppets 2 - Procurados e Amados

Caco e companhia voltam para tirar mais sarro de Hollywood

Por Pedro Strazza

Em 2011, os Muppets marcaram seu retorno aos cinemas com um filme que, usando do emocional do público, reapresentava a amada trupe de bonecos com um tom de auto-sarro (da forma mais inocente possível, claro) sobre a situação de abandono que viveram por anos. Agora, três anos depois de serem reintroduzidos, os personagens criados por Jim Henson repetem na continuação esse seu lado cômico, aplicando seu humor dessa vez ao cinema e seus clichês - mais exatamente os filmes de espionagem à la James Bond.
Esta tendência já se faz clara desde os primeiros minutos de Muppets 2 - Procurados e Amados (que começa, ironicamente, imediatamente após o final do primeiro filme): Conscientes de seu retorno, a trupe liderada por Caco (Para os mais jovens, Kermit), o Sapo vê nessa sequência a necessidade de sair em turnê após um número musical que expõe exatamente essa urgência de uma continuação de sua franquia ("A Disney, afinal, precisa de algo enquanto desenvolve Toy Story 4", canta Gonzo). Com isso em mente, os bonecos contratam Dominic Badguy (Ricky Gervais) como seu agente, sem saber que este conspira com Constantine, um sósia russo de Caco e o homem mais procurado do mundo, para roubar diversos museus através de seu show.
O próprio trocadilho óbvio no sobrenome de Dominic é uma das pistas para como a premissa do longa se desenrolará aqui. A cada passo dado em sua narrativa, Muppets 2 faz questão de apontar o clichê que inocentemente segue ou da tirada que realiza com alguma celebridade - ou até entre os próprios bonecos, a exemplo de quando um deles em certo momento reclama que "Novamente estão dando destaque a alguns personagens e colocando outros em segundo plano" - para fazer o espectador rir, através do humor característico e extremamente bem sucedido de seus personagens. A escolha de Tina Fey (intérprete de uma oficial russa de um gulag onde Caco é preso) e Gervais para interpretar dois dos três personagens humanos principais, não por acaso, segue essa escolha da história pela ironia com o próprio cinema, visto a frequente disposição destes dois atores em despreocupadamente fazer piadas sarcásticas com o que acontece dentro de Hollywood.
Os números musicais, porém, não seguem o mesmo nível de qualidade. Oscarizado no último filme, Bret McKenzie continua na sequência a escrever excelentes e hilariantes canções que se divertem na cafonice de vários gêneros musicais (sendo a mais visível, claro, a ótima "I'll Get You What You Want (Cockatoo in Malibu)"), mas em alguns momentos elas soam destoantes dos acontecimentos da trama. Sem contar aquelas que são mal introduzidas pelo roteiro, como por exemplo em "I'm Number One" e "Something So Right".
Outro ponto não tão bem trabalhado em Muppets 2 é o arco "dramático" (não dá pra ter um drama em um filme desses, convenhamos) vivido por Caco na história. Apesar de servir como um bom mote para o roteiro, a separação do líder de sua família acaba por quebrar a narrativa em duas partes - uma de mistério, outra de fuga de prisão - que muitas vezes não se conectam tão bem para fazer a trama andar organicamente.
Nada muito prejudicial, entretanto, para que o filme entregue ao espectador o prometido. Apesar de começar a dar sinais de desgaste, a equação do riso providenciada pelo roteiro de James Bobin e Nicholas Stoller (que recentemente dirigiu outra produção voltada exclusivamente para o humor) novamente funciona bem nas criações de Henson e continuam a pavimentar o retorno destes amados personagens. Para o terceiro filme e uma eventual série de TV, porém, essa fórmula terá que ser repensada e não repetida.

Nota: 8/10

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Review: Orange is the New Black - 2° Temporada

Detentas de Litchfield ganham maior destaque no segundo ano da série

Por Pedro Strazza

A prisão funciona no cinema e na televisão como uma representação simplificada do mundo. Responsável pela reforma moral dos indivíduos que quebraram as leis básicas do convívio social, o sistema carcerário é interpretado pela sétima arte como um lugar onde seus habitantes (os prisioneiros) possam estabelecer relações e conflitos primitivos entre si, sendo que inconscientemente suas ações reflitam a sociedade a que foram privados. Dessa forma, a abordagem da produção sobre a penitenciária pode ir do suspense à comédia sem parecer estranha, visto a teatralidade do ambiente escolhido.

Orange is the New Black é uma série que soube entender muito bem esse conceito. Em sua primeira temporada, o seriado adotou um tom mais cômico para mostrar a prisão federal feminina de Litchfield a partir do ponto de vista da protagonista Piper Chapman (Taylor Schiling), uma mulher condenada ao encarceramento devido a um erro do passado e transformada pela população habitante de dentro das grades. Para continuar sua trama no segundo ano, porém, a produção preferiu inserir novas dinâmicas e personagens a manter o rumo proposto em sua estreia, algo que rapidamente provou-se ser um acerto.

[A partir deste ponto, pesados SPOILERS sobre a segunda temporada de Orange is the New Black. Se ainda não viu ou não terminou de ver, pare por aqui.]

As alterações já começaram a ocorrer logo no início da temporada com a falsa transferência de Chapman para outra prisão. Separando a protagonista das outras prisioneiras, a série pode mostrar em seus dois primeiros episódios que seria possível manter a história sem a necessidade de Piper, pois a prisão e seus "cidadãos" se tornaram o foco do seriado. O roteiro, assim, pode então desenvolver, nos capítulos restantes, a linha narrativa de sua "ex"-personagem principal sem necessariamente precisar envolvê-la com o cotidiano da penitenciária, e por consequência tornou Chapman em mais uma das mulheres encarceradas em Litchfield.

Com essa decisão, o segundo ano pode ressaltar ainda mais a principal qualidade de Orange is the New Black: as detentas. Presas em Litchfield pelos mais variados motivos, essas personagens foram melhor exploradas pela série nesta temporada, que, além de investigar os motivos para elas estarem ali, aprofundou-se na real personalidade de várias prisioneiras através dos flashbacks - agora melhor utilizados ao exibirem fatos que construíssem melhor a personagem no episódio - e de suas relações na penitenciária. A prática dessa metodologia trouxe os melhores episódios da temporada, como os que se aprofundaram nas vidas de Lorna Morello (Yael Stone), Suzanne "Crazy Eyes" Warren (Uzo Aduba), Rosa (Barbara Rosenblat) e Poussey (Samira Wiley).

Ao mesmo tempo em que trabalhava suas personagens já estabelecidas, a série trouxe ainda novidades interessantes no elenco. As entradas de Soso (Kimiko Glenn) e Vee (Lorraine Toussaint) na penitenciária promoveram mudanças interessantes na dinâmica social das detentas - Principalmente Vee, que além de fazer crescer a rixa entre espanholas, negras e brancas criou uma briga pessoal com Red (Kate Mulgrew) pelo controle do contrabando.

Mesmo que perdendo um pouco de sua centralidade na trama, Piper manteve importância para a série. Agora incorporada a Litchfield, Chapman teve um maior contato com a prisão e seus defeitos ao perder, em grande parte da temporada, seu contato com o exterior ao encerrar seu relacionamento com Larry (Jason Biggs), além de perceber a sua real paixão por Alex (Laura Prepon), ausente na temporada após ter sido liberada da pena. Piper sofreu mais um crescimento pessoal nesta temporada, e continua seu processo de metamorfose na penitenciária.

Mas se no núcleo das prisioneiras a série acertou a mão, fora deste os resultados foram inconstantes. Enquanto o lado administrativo da prisão e sua corrupção - algo que infelizmente não ocorre apenas em Litchfield e é uma realidade em grande parte dos presídios - ganhou um ótimo foco nesta temporada com o confronto entre Figueroa (Alysia Reiner) e Caputo (Nick Sandow), o núcleo de pessoas relacionadas a Piper do lado de fora das grades pareceu em muitos momentos superficial e bobo. Apesar de bem trabalhado, o relacionamento de Larry com Polly (Maria Dizzia), por exemplo, ficou extremamente mal situado em relação ao que acontecia na prisão, gerando a sensação errônea de enrolação em muitos momentos.

Mesmo que contando com pequenos problemas, Orange is the New Black mostrou um ótimo crescimento entre a primeira e segunda temporadas. O segundo ano, mesmo que finalizado de forma muito simples visto os acontecimentos apresentados, mostrou ao público que a série é capaz de ser pautada por personagens além de Chapman e de ser realista em sua proposta. Afinal, na visão da série, quem se encarrega de reeducar ou não as prisioneiras não é o sistema carcerário, mas sim as próprias detentas que integram o sistema.

Nota: 9/10

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Crítica: Vizinhos

Seth Rogen e Zac Efron protagonizam conto sobre a dificuldade de crescer

Por Pedro Strazza

Já não é novidade o fato de que as comédias protagonizadas por Seth Rogen e seus amigos dividam tanto a opinião do público. Dotado de um humor mais grotesco, os filmes desta vertente do humor estadunidense atual apostam na cultura da "broderagem" e da maconha para causar o riso nos mais diferentes contextos e não possuindo qualquer tipo de medo para levar seus esquetes ao último grau do absurdo.

Vizinhos, produzido e protagonizado por Rogen, não foge a esse perfil. Tendo como foco principal a briga entre um casal de novos pais e uma fraternidade - iniciada, ironicamente por questões de quebra da amizade -, o longa explora as mais diversas situações típicas dos dois lados para construir suas piadas, envolvendo aí assuntos como a amamentação e o sexo no primeiro caso e a falta de dinheiro e a urgência por festas no segundo. O humor da produção surge, obviamente, no momento em que se decide por exagerar as problemáticas e tornar seus personagens vítimas delas, além de gerar a quebra ocasional de alguns clichês do gênero e fazer graça com inúmeras obras da cultura estadunidense.

O interessante desta comédia, entretanto, é a capacidade de conseguir criar, no ápice de sua loucura,  uma conexão entre as situações vividas pelos dois lados para elaborar uma análise humana da dificuldade em aceitar o envelhecimento: Enquanto o casal vivido por Rogen e Rose Byrne recusa a conformação de ter chegado ao próximo estágio da idade adulta com o nascimento de sua filha, o líder da fraternidade Teddy Sanders (Zac Efron, excelente na desconstrução de seu próprio estereótipo de garoto popular) procura evitar a todo custo a ideia de que sua época de faculdade está para acabar. A simples briga entre vizinhos torna-se, então, uma guerra pelo direito de continuar jovem, sendo que as duas lideranças, em suas respectivas síndromes de Peter Pan, mal sabem que já estão derrotadas desde o princípio.

Mas enquanto o roteiro é preciso em conectar seus protagonistas no nível psicológico, ele falha no momento de ligar os personagens entre si e com a trama. O casal divorciado e amigo do principal (Ike Barinholtz e Carla Gallo), por exemplo, surge desnecessário em vários momentos, enquanto o bebê, presumidamente tido como vital para os personagens de Seth e Rose, é abandonado pelos pais com pouca explicação e uma facilidade tão grande quanto a velocidade com que as brigas se resolvem. Estas quebras tiram do longa uma maior organicidade na fluidez da história, e impedem que alguns dos esquetes sejam mais engraçados.

Fora estes defeitos visíveis e escabrosos de narrativa, Vizinhos é um filme que sabe muito bem equilibrar, na medida do possível, a risada com a reflexão acerca do medo do futuro e da mudança. O humor, claro, ainda impera sem obstáculos aqui, mas pelo menos funciona com um propósito maior que o de entreter apenas.

Nota: 7/10

sábado, 21 de junho de 2014

Crítica: Como Treinar o Seu Dragão 2

Continuação acerta em evoluir valores e conceitos do original

Por Pedro Strazza

Quando o primeiro Como Treinar o Seu Dragão chegou aos cinemas em 2010, o panorama da Dreamworks Animation na época não era tão positivo. Com Shrek, sua principal e mais rentável franquia, em ponto crítico de esgotamento, o estúdio precisava arranjar uma nova série de filmes que fosse tão agradável ao público quanto para a crítica, e suas opções à disposição até ali (Madagascar, Monstros vs. Alienígenas, Kung Fu Panda) não aparentavam ter fôlego suficiente para suceder tão bem a saga do ogro verde. A aposta veio, então, na forma do conto do jovem viking Soluço e seu dragão Banguela, personagens principais de uma coleção de aventuras escritas por Cressida Cowell em 12 livros - e que se provou rapidamente como um acerto.
Agora, pouco mais de quatro anos depois do primeiro capítulo, o estúdio lança a esperada continuação deste projeto, Como Treinar o Seu Dragão 2, que dá sequência e expande os conceitos propostos no longa de 2010, além de evoluir seus personagens na mesma medida que seu público-alvo o fez. Aqui, o protagonista e seus amigos não são mais um grupo de pré-adolescentes de problemas com a família, mas sim jovens de quase vinte anos que sentem a necessidade urgente de sair de casa e explorar o mundo.
E o drama central de Soluço, obviamente, não escapa a esta temática. Se antes o filho do líder Stoico tinha problemas com o pai por causa da cegueira deste em ver que as criaturas místicas eram diferentes do que ele e seu povo imaginava, o protagonista se depara aqui com o dilema de assumir a responsabilidade e suceder seu ascendente ao trono ao invés de sair de casa e descobrir o mundo e novos dragões, principal atividade sua agora. Esta dura decisão, sozinha um excelente tema a ser abordado, é belissimamente polarizada pela produção com a reaparição da mãe de Soluço, Valka, como uma mestre exploradora das criaturas aladas e a reposição de Stoico como a figura representante da tradição, tornando o "embate" psicológico do personagem principal em algo palpável e profundo.
Como Treinar o Seu Dragão 2, porém, não se mantém apenas no lado intimista do protagonista, e desenvolve em sua linha narrativa uma trama mais épica, focada aqui nos esforços de Drago (o primeiro vilão maniqueísta da franquia) em dominar o mundo à partir de um exército de dragões subordinados à sua pessoa. A elaboração desta parte da história cria maiores e melhores sequências de ação ao filme em relação ao seu predecessor - Afinal, há uma expansão brutal da mitologia e do número de criaturas -, mas perde força por não contar com o protagonista, afastado pelas questões acima expostas, em grande parte de seus eventos. E mesmo que os personagens coadjuvantes - tão bem desenvolvidos quanto seu líder por conterem em seu perfil defeitos e características únicas (dentre estas a homossexualidade de um deles, apresentada de passagem em uma cena) capazes de humanizá-los - carreguem satisfatoriamente estes momentos, o longa não deixa de dar a impressão que tudo ali poderia ter sido resolvido muito mais rapidamente com a presença de Soluço.
Este pequeno defeito da narrativa, porém, em nada tira do filme sua qualidade. Além de continuar com esmero a trama de seu protagonista, Como Treinar o Seu Dragão 2 acerta em, ao mesmo tempo em que expande seu universo, manter a coragem que o primeiro capítulo trouxe, sem medo de sacrificar peças vitais da vida de Soluço para desenvolvê-lo e, de quebra, trazer ao espectador um maior medo com os tantos personagens amáveis criados e estabelecidos. Ousadia esta que, por si só, já tornaria a franquia em algo a mais.

Nota: 8/10

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Crítica: Transcendence - A Revolução

O Ela blockbuster que não deu certo

Por Pedro Strazza

A ficção científica é um gênero que possui duas camadas básicas de desenvolvimento em seu roteiro: A visual e a filosófica. Na primeira, cria-se um mundo onde um ou mais fatores, fundamentados na ciência, alteram o rumo histórico da civilização, devido a um benefício (ou malefício, em alguns casos) que o ser humano, no mundo real, ainda não conseguiu alcançar, chamando a atenção do espectador no processo; No segundo nível, a produção cinematográfica utiliza desse universo estabelecido e dos personagens que o habitam para criar uma discussão acerca de um conceito humano-social básico presente em nossa sociedade, gerando no público, por sua vez, uma reflexão interna e externa sobre o assunto.
Complementares, estas duas linhas de raciocínio são vitais para que uma obra de ficção científica tenha um mínimo de profundidade e qualidade, e, se bem elaboradas e trabalhadas, podem vir a ser a principal razão de sucesso do produto. Assim, não se concebe como surpresa o fato de Transcendence - A Revolução ser um filme tão fraco, visto que sua proposta falha justamente em pontos primordiais do gênero.
Estréia de Wally Pfister (diretor de fotografia da trilogia O Cavaleiro das Trevas e de A Origem) na direção e de Jack Paglen no roteiro, o filme mostra a história de Will Caster (Johnny Depp), um cientista que procurar em suas pesquisas criar uma inteligência artificial. Brilhante e introvertido, Caster acaba por sofrer um atentado planejado por uma organização anti-tecnologia que o deixa com pouco tempo de vida graças aos efeitos de uma bala de polônio (não procure entender isso, sério). À beira da morte, ele decide, em acordo com sua esposa Evelyn (Rebecca Hall) e seu amigo Max (Paul Bettany), copiar sua memória para o seu projeto de vida, perpetuando seu intelecto para a ciência e sua personalidade para a mulher.
O debate que o longa procura estabelecer no público a partir de sua premissa é claro: Como fica a noção de consciência, tão discutida na história da filosofia, aplicada no contexto do surgimento das novas tecnologias e do desenvolvimento vindouro de inteligências artificiais? A partir de qual momento poderemos estabelecer que estas IAs tem uma identidade? E a partir dessa ocasião, podemos considerá-las como humanas? Estas questões, problemáticas em diversos níveis e curiosas em diversos aspectos, poderiam sozinhas sustentar a estrutura do roteiro de Paglen, mas aqui são rapidamente descartadas em prol de frases de efeito duvidosas e discussões que sempre são encerradas na base do grito. No fundo, Transcendence apenas repete na tela tópicos de conversa buscando uma profundidade para si, mas não chega a realizar isso de fato.
E se no nível filosófico a produção se atrapalha demais com a aparência, no visual se faz catastrófico. Conceitos são atirados a todo momento sem nenhuma explicação, personagens desaparecem e reaparecem quando necessários - e são porcamente desenvolvidos quando em tela, como é possível observar nas motivações de Max para querer combater a IA do melhor amigo -, a fotografia é chapada e sem inspiração (Um grande problema aqui, visto que o diretor era responsável por este departamento em trabalhos anteriores!)... Nada contribui para tornar o filme interessante ao espectador. Nem mesmo o elenco, que, composto por ótimos atores como Depp (completamente ausente em sua atuação), Bettany, Morgan Freeman, Kate Mara e Cillian Murphy, está canastríssimo e limitado aos perfis superficiais do roteiro.
Com tanto potencial no assunto que aborda, Transcendence - A Revolução falha fragorosamente por escolher concentrar seus esforços em uma história sem nenhum brilho ao invés de se aprofundar na discussão - Algo que Ela, por exemplo, fez ao contrário tão bem. Muita coisa é inserida, mas nenhuma parece ser digna de ser desenvolvida pela produção.

Nota: 1/10

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Crítica: A Culpa é das Estrelas

O amor e seus clichês no tempo do câncer

Por Pedro Strazza

O câncer é uma das poucas doenças que mais machuca o emocional ao físico. De longa duração, o tumor, mesmo podendo ser benigno, é geralmente encarado pela sociedade como um lembrete da vindoura e inevitável morte do ser humano, agora acelerado no corpo daquele paciente. Esta correlação pessimista cria rapidamente no indivíduo acometido de tal mal uma espécie de "bolha de compaixão", onde todas as pessoas que interagem com ela e conhecem sua condição automaticamente a tratam como se estivesse em seus últimos dias de vida - e a impedindo, consequentemente, de viver estes mesmos "últimos dias" como uma pessoa normal.
É neste contexto de dor pela lembrança do futuro próximo e imutável que Hazel (Shailene Woodley) vive no início de A Culpa é das Estrelas. Convivendo com o câncer desde a infância, a garota de dezesseis anos de idade passa seus dias em meio a reality shows e a leitura de um mesmo livro, e não demora muito para seus atenciosos pais (Laura Dern e Sam Trammell) suspeitarem que ela esteja também com um quadro de depressão e a convencerem a voltar a frequentar um grupo de apoio de vítimas do câncer. Lá, Hazel conhece o extrovertido Gus (Ansel Egort), que logo vira seu amigo e, mais tarde, seu namorado.
Baseado no livro homônimo de John Green, o filme segue a partir daí uma linha narrativa que brinca bastante com os clichês do gênero romântico. Em diversos momentos, Hazel e Gus ironizam inconscientemente (e em algumas ocasiões até de forma consciente, como em suas piadas pra cima do amigo de Gus e sua namorada) as mais variadas situações típicas dos romances, como o piquenique ou as diversas tentativas dele em conquistar romanticamente sua amiga. O roteiro escrito Scott Neustadter e Michael H. Weber (ambos de 500 Dias com Ela) é sagaz em não contrapor estas passagens com o câncer que o casal possui, deixando as dores causadas pela doença para outras passagens.
A Culpa é das Estrelas começa a falhar, porém, quando a ironia ao clichê dá lugar ao próprio clichê. A trama do filme progressivamente abandona uma estrutura interessante para abraçar a pieguice e a obviedade a partir do momento em que o casal protagonista faz sua viagem para Amsterdã (muito mal explicado na figura dos "Gênios", uma entidade também estabelecida no longa sem qualquer explicação) e se rende a situações que antes tiravam sarro. Nesse ponto, a direção de Josh Boone, que já era precária em várias características - os balões de mensagem do celular e a narração em off extremamente pontual de Hazel, por exemplo -, pesa demais em elementos narrativos fracos e sem criatividade, tendo como ápice a sequência porcamente conduzida na casa de Anne Frank.
Mas se na história vê-se uma entrega ao piegas, a dinâmica exercida por Woodley e Egort mantém a produção estável. Ao longo da trama, vê-se no casal uma aceitação da inevitabilidade dos acontecimentos futuros e a opção por aproveitar o momento (em outras palavras, o carpe diem) ao invés da lamentação. A atuação de Shailene é ainda mais impressionante pela entrega da atriz sobre as dores emocionais, e não físicas, causadas pelo câncer da personagem, a exemplo de cenas onde conversa com os médicos ou, quando sente falta de ar na cama, sente medo pela doença atacar justamente na véspera de sua viagem para o exterior.
Falho por se render demais ao exagero romântico que se propõe no início a combater, A Culpa é das Estrelas compensa o roteiro falho com uma atuação poderosa de sua protagonista. Aqui, Shailene Woodley demonstra um nível de compreensão sobre a situação vivida por sua personagem que os roteiristas e o diretor não enxergaram - Algo que, se percebido a tempo, poderia ter tornado o filme em algo mais profundo que apenas uma falsa reinvenção do gênero.

Nota: 5/10

domingo, 15 de junho de 2014

Crítica: O Lobo Atrás da Porta

Os perigos da opinião pré-estabelecida em um mundo sem inocentes

Por Pedro Strazza

Desenvolver o psicológico de um personagem no cinema é uma tarefa difícil. Dependendo de um roteiro extremamente bem elaborado no panorama emocional e de uma intérprete de talento, esta construção exige muito cuidado na composição de cada cena para que tenha todo seu potencial utilizado. Se bem executado, este processo torna o produto mais verossímil com a realidade e a trama mais profunda; se não, o enredo superficializa-se e perde qualquer força planejada.

O Lobo Atrás da Porta, estréia do diretor Fernando Coimbra em longa-metragens, felizmente consegue seguir pela primeira opção. Situado no Rio de Janeiro das classes C e D, o filme realiza uma análise profunda de sua protagonista em uma trama que parte de um crime inicialmente inexplicável: O rapto da filha de Bernardo (Milhem Cortaz) e Sylvia (Fabíula Nascimento).

Esquematizando a narrativa sobre a investigação policial, o roteiro usa dos depoimentos tomados na delegacia para contar aos poucos sua história, retratando tanto as verdades e mentiras utilizadas pelos suspeitos e vítimas. Esta tática, além de possibilitar que o espectador permaneça tão intrigado pelo caso quanto o detetive (Juliano Cazarré) responsável por este, cria nos personagens vários pontos de vista a serem explorados, permitindo por sua vez à produção a liberdade para mudar seu foco ao longo de seus 101 minutos. Dessa maneira, o filme, sem gerar incômodos no público, aos poucos tira sua atenção da crise de relacionamento vivida entre os pais da criança desaparecida para analisar Rosa (Leandra Leal), amante de Bernardo e principal suspeita do rapto.

O espectador, porém, já inicia esta análise com uma opinião formada graças ao processo narrativo adotado por Coimbra na construção do roteiro - O que torna a experiência proporcionada por O Lobo Atrás da Porta ainda mais interessante. Concebido por Bernardo, quando este conta seu lado da história para a polícia, como uma mulher maluca (evidenciado claramente na atenção que ele chama para o fato da amante possuir uma arma e da maneira como esta aborda sua esposa), Rosa aos poucos mostra, em seu depoimento, uma visão menos maniqueísta da situação acontecida entre ela e o casal, e consequentemente altera a opinião elaborada pelo público sob os personagens mostrados. Nesse momento, vê-se finalmente a sua real personalidade e o quão fragilizada ela está devido aos acontecimentos ocorridos, revelando uma faceta pela qual o espectador, induzido pela opinião, não poderia prever.

E mesmo que parta de uma lógica um pouco precária (afinal, poderíamos mesmo confiar em uma pessoa cotada como grande suspeita de um crime?), o relato da protagonista funciona com excelência para inverter os valores concebidos pelo espectador, ainda mais por ser auxiliado pelas excelentes atuações do elenco - com destaque, claro, à Leal, capaz de conferir à sua Rosa uma difícil humanidade. Essa quebra do paradigma do público, rara no cinema, é sem dúvida o ponto alto de O Lobo Atrás da Porta.

Nota: 9/10

segunda-feira, 9 de junho de 2014

E3 2014: Conferências

Que comece a E3 2014! Agora que todos os consoles da nova geração foram anunciados e lançados no último ano, está na hora das grandes empresas do mundo dos games mostrarem a que veio essa nova era do mercado. E para que isso ocorrar, Microsoft, Eletronic Arts, Ubisoft, Sony e Nintendo vão ter que anunciar muito jogo em suas conferências!
Em seu segundo ano acompanhando o evento, O Nerd Contra Ataca disponibilizará mais uma vez um resumão de todas as cinco apresentações, destacando jogos, DLCs e quaisquer novidades sobre a indústria dos games no evento. Confira abaixo as novidades que vão deixar o seu lado gamer ansioso pelo próximo ano!


Microsoft

  • Call of Duty - Advanced Warfare: Jogo abriu conferência da Microsoft com um belíssimo gameplay de quase dez minutos;
  • Forza Horizon 2: Sequência será lançada no dia 30 de setembro e, além de mudar suas corridas para a Europa e contar com novas mudanças climáticas e músicas, usará o sistema Drivatar, uma inteligência artificial criada a partir do estilo de direção do jogador. A Microsoft também confirmou o lançamento do DLC gratuito Nürburgring para Forza Motorsport 5, que será disponibilizado para aquisição a partir de hoje;
  • Evolve: O jogo, que será lançado para Playstation 4, Xbox One e PC, terá seus DLCs e a fase de testes beta lançados primeiro no Xbox One. Desenvolvido inicialmente pela THQ, o game passou a ser produzido pela Turtle Rock Studios quando a empresa anterior foi à falência;
  • Assassin's Creed - Unity: Novo jogo da franquia da Ubisoft ganhou um trailer na conferência da Microsoft que mostra mais do modo co-op de até quatro jogadores. O produto será o primeiro da série a ser exclusivo para a nova geração de consoles;
  • Dragon Age - Inquisition: Novo capítulo da série teve novo trailer divulgado durante a apresentação. A empresa também anunciou que o jogo sai dia 7 de outubro;
  • Sunset Overdrive: Com lançamento marcado para 28 de outubro, o game exclusivo para Xbox One ganhou um gameplay alucinante;
  • Super Ultra Dead Rising 3 Arcade Edition Hyper Edition Ex+ Alpha: O super-mega-ultra alucinado DLC de Dead Rising 3 é uma verdadeira tiragem de sarro com a Capcom, estúdio responsável pela franquia. Já disponível para download, o conteúdo extra permite que o jogador faça cosplay com vários personagens da empresa, saídos de franquias como Street Fighter e Darkstalkers;
  • Dance Central Spotlight: Jogo da Harmonix será disponibilizado para download em setembro e tratá novidades musicais para o produto à cada semana;
  • Fable Legends: Novo capítulo da tradicional série de games da Lionhead teve um novo vídeo de jogabilidade divulgado na conferência. Não há previsão de lançamento;
  • Halo - The Masterchief Collection: A coleção, anunciada pela Microsoft na apresentação, trará no pacote os jogos Halo: Combat Evolved, Halo 2, Halo 3 e Halo 4, todos remasterizados, além de um acesso antecipado à fase de testes beta de Halo 5 - Guardians. Serão mais de 100 mapas (com gráficos de alta qualidade em 1080p e 60 quadros por segundo) disponíveis no multiplayer. A série Halo Nightfall, produzida por Ridley Scott, também está inclusa na coleção, e ligará os quatro primeiros jogos a Guardians;
  • Rise of Tomb Raider: O novo jogo de Lara Croft foi anunciado e ganhou um primeiro trailer;
  • The Witcher 3 - Wild Hunt: Novo jogo da CD Projekt ganhou gameplay de cinco minutos;
  • Phantom Dust: Jogo é novo projeto da desenvolvedora de Killer Instinct;
  • The Division: Jogo da Ubisoft ganhou novo vídeo de jogabilidade na conferência;
  • Scalebound: Jogo foi anunciado na E3;
  • Crackdown: Franquia popular da Microsoft ganha novo capítulo no Xbox One;

Eletronic Arts

  • Star Wars - Battlefront: Jogo ganhou um vídeo que mostra mais detalhes sobre a pesquisa da DICE na franquia para conceber o game;
  • Dragon Age Inquisition
  • Mass Effect: Bioware mostrou na conferência quais são os seus futuros planos para a franquia;
  • The Sims 4: Eletronic Arts mostrou mais detalhes da customização dos personagens do jogo e marcou a data de lançamento para 2 de setembro;
  • NHL 15
  • Criterion Games: Estúdio criador de Burnout mostrou em primeira mão seus planos de um novo jogo, que combina vários veículos (helicópteros, jet-skis, para-quedas etc) na visão em primeira pessoa;
  • EA Sports PGA Tour: Navios bombardeiros e bolas voando no primeiro trailer do novo jogo da franquia de golfe da EA;
  • Madden NFL 15
  • Dawngate: MOBA teve vídeo de bastidores mostrado na E3;
  • Mirror's Edge 2: Eletronic Arts anunciou em vídeo que o jogo mostrará as origens da protagonista Faith;
  • FIFA 15
  • Battlefield Hardline: Para fechar a sua conferência, a Eletronic Arts mostrou um vídeo de jogabilidade do novo capítulo da sua franquia de tiro, além de ter anunciado que as inscrições para i beta do game se iniciam hoje (dia da publicação deste post);

Ubisoft

  • Far Cry 4: Previsto para ser lançado em 14 de novembro, o novo jogo da franquia teve seus cinco primeiros minutos mostrados logo no início da conferência da Ubisoft;
  • Just Dance 2015: Game foi anunciado na coletiva e tem lançamento previsto para outubro. Jogo poderá ser jogado por quem tem um smartphone;
  • The Division
  • The Crew: O novo jogo de corrida da Ubisoft será lançado em 11 de novembro para Playstation 4, Xbox One e PC, mas já terá um teste beta aberto e gratuito a partir do dia 23 de julho;
  • Assassin's Creed - Unity
  • Shape Up: Anunciado na conferência, jogo, exclusivo para Xbox One, usa o Kinect para transformar os exercícios físicos em jogos. O lançamento é previsto para o fim de 2014;
  • Valiant Hearts
  • Rainbow Six Siege: Anunciado hoje, jogo quebrou uma sequência da franquia de seis anos sem ter nenhum jogo lançado. Com lançamento previsto para 2015, Siege terá versões para Playstation 4, Xbox One e PC;

Sony

  • Destiny: Bungie iniciou conferência anunciando que o beta de Destiny terá uma versão exclusiva para o Playstation 4 a partir do dia 17 de julho, além de contar com um bundle especial no lançamento que vem com uma edição branca do console;
  • The Order - 1886
  • Entwined: Anunciado na coletiva, jogo da Pixelopus já está disponível para download por dez dólares na Playstation Store;
  • Little Big Planet 3: Revelado no evento, terceiro capítulo da franquia Little Big Planet terá personagens inéditos (Oddsock, Toogle e Swoop) com habilidades diferentes. Com versões para Playstation 4, jogo também terá disponível todos os níveis de Little Big Planet 1 e 2 já no lançamento, totalizando 8,7 milhões de fases;
  • Bloodborne: Conhecido antes pelo nome de Project Beast, o novo jogo da From Software e do diretor Hidetaka Miyazaki (ambos criadores de Dark Souls) teve o primeiro trailer mostrado na E3;
  • Far Cry 4: Na conferência da Sony, a Ubisoft revelou que o multiplayer do jogo poderá ser jogado mesmo sem ter o jogo. Quem possuir Far Cry 4 e quiser uma ajuda do amigo pode convidá-lo para a missão;
  • Dead Island 2: Revelado no evento, sequência de game de zumbis ganhou divertidíssimo trailer;
  • Magicka 2
  • Grim Fandango: Sony anunciou uma parceria com a Double Fine para lançar versão remasterizada do jogo para o Playstation 4 e o Playstation Vita;
  • Abzû
  • No Man's Sky
  • Video Sharing: A Sony anunciou na conferência uma parceria com a UStream, o Twitch e o Youtube para facilitar a compartilhação de vídeos gravados no Playstation 4;
  • Games gratuitos: Mais de 25 jogos grátis serão lançados na Playstation Store para Playstation Vita, Playstation 3 e Playstation 4. Entre os títulos tem-se jogos como Planet Side 2 e Kingdom Under Fire;
  • Powers: Há anos tentando transformar a obra em série de TV pela FX, Brian Michael Bendis veio na E3 para anunciar que a PSN adaptará os seus quadrinhos no formato. Prevista para dezembro, a série em live-action chegará à rede do Playstation 4 com uma primeira temporada de dez episódios de uma hora cada. O roteiro do piloto é de Charlie Huston, que divide a produção do seriado com Remi Aubuchon;
  • The Last of Us Remastered: Anunciado no evento, versão remasterizada do premiado jogo do ano passado será lançado para Playstation 4 no dia 29 de julho;
  • Metal Gear Solid V - The Phantom Pain
  • GTA V
  • Let it Die
  • Mortal Kombat X
  • Batman - Arkham Knight
  • Uncharted 4 - A Thief's End

domingo, 1 de junho de 2014

Crítica: Malévola

Angelina Jolie carrega sozinha reinvenção de vilã clássica da Disney

Por Pedro Strazza


O cinema já provou diversas vezes em sua História que a opinião do público sobre um vilão pode sim ser mudada. Antagonistas como Darth Vader e Severus Snape, por exemplo, foram com o tempo sendo aprofundados por suas franquias, e em suas respectivas trajetórias foi encontrada alguma razão para justificar seus atos vis.

Este processo, extremamente dependente do talento dos roteiristas, entrou na pauta da Disney quando esta iniciou sua fase de desconstrução dos contos de fada que a tanto ajudaram a construir seu sucesso no passado. E a personagem a ser submetida a esta mudança não poderia ser outra senão a maior representante de seu famoso grupo de vilões: Malévola, a bruxa responsável por colocar a princesa Aurora em um sono profundo e eterno.

Mudar uma figura tão bem estabelecida como esta, porém, não seria uma tarefa fácil. Como realizar a transição de Malévola para o live-action sem desrespeitar a concepção clássica da animação? Pior, como alterar o perfil tão maniqueísta da história e aprofundar-se nas características de uma personagem tão superficial?

No primeiro problema a produção pelo menos teve a sorte de contar com Angelina Jolie. Envolvida com o projeto desde seus primeiros passos, a atriz tomou para si a tarefa e fez questão de pessoalmente compor, da maquiagem à própria interpretação, cada um dos aspectos de seu papel junto da equipe. Dessa forma, Jolie consegue encarnar a vilã com todo o conforto possível, tornando sua Malévola palatável e nova ao público através de uma atuação muito bem trabalhada e situada nos moldes buscados pelo filme, ao mesmo tempo em que respeita as composições físicas originais da personagem - algo facilmente exemplicado na postura com a qual a atriz anda ou no angulamento de seu rosto.

Se na protagonista o filme é atento, no resto, porém, falta cuidado e acabamento. O roteiro escrito por Linda Woolverton é a princípio bem intencionado em tentar tornar Malévola - de início a fada mais poderosa e gentil do reino dos Moors (uma descrição que faz absolutamente nenhum sentido com seu nome) - uma personagem movida pela vingança e pela traição do amor, mas erra abruptamente quando procura criar na relação superficialmente desenvolvida entre a vilã e a princesa Aurora (Elle Fanning) um novo significado para o conto em um curtíssimo espaço de tempo - culpa em parte da minúscula duração de 97 minutos do filme.

Os personagens coadjuvantes também são problemáticos na condução da trama. Além de Aurora, cuja participação se limita a sorrisos e gestos gentis, o rei Stefan (Sharlto Copley) e o servo Diaval (Sam Riley) são porcamente estabelecidos e restritos a papéis clichê na narrativa. Uma pena, visto que estes três elementos poderiam ser vitais para a elaboração de uma Malévola ainda mais complexa que a mostrada.
Outro ponto problemático de Malévola é a sua elaboração visual. Quase todas as criaturas habitantes dos Moors concebidas pela produção parecem terem sido retiradas de outros longas de sucesso como Avatar ou Senhor dos Anéis, e tiram desse mundo fantástico qualquer encantamento. As fadas Thistletwit (Juno Temple), Knotgrass (Imelda Staunton) e Flittle (Lesley Manville), além de minimizadas ao papel de alívio cômico pelo roteiro (e dos mais forçados, por sinal), tem em seu visual reduzido uma artificialidade bizarra, parecendo em muito com uma versão pirata e digital dos mini craques vendidos em época de Copa do Mundo.

Sem nenhuma astúcia para aproveitar momentos-chave da trama (como no momento em que a maldição se completa) e de roteiro extremamente defeituoso tanto em aspectos de continuidade quanto em de construção da protagonista, Malévola é um filme que se apóia demais na atuação de Jolie para obter qualquer conexão com o público - e consegue, apesar de não apresentar mais nada além disso. No esforço de acertar a composição da vilã (agora heroína), em Malévola sobram boas intenções, mas falta uma história mais interessante e bem construída.

Nota: 3/10