sábado, 31 de janeiro de 2015

Crítica: A Teoria do Tudo

Inibição de melodrama tanto ajuda quanto prejudica resultado da produção.

Por Pedro Strazza

Aumentar o peso dramático de determinadas passagens é uma prática bastante comum das cinebiografias. Não porque obras da categoria almejem o melodrama para arrancar choros inconsoláveis de seu público, mas sim pela falta da dramaticidade necessária na vida real. A realidade, afinal, não é feita de atos e arcos de personagem ou é interpretada por grandes atores e atrizes; os fatos acontecem a seu tempo, como e aonde queiram.
A Teoria do Tudo, entretanto, sofre de início de um problema inverso à de sua classe, o do excesso de drama na vida de seu protagonista. Diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica quando jovem, o brilhante físico Stephen Hawking sofreu grande parte de sua vida com o agravamento de sua doença, que não só lhe tirou a capacidade de se mexer como também arrancou-lhe a voz e os movimentos faciais. Isso não o impediu de se tornar um dos gênios mais conhecidos do mundo e de marcar seu nome na história da ciência, claro, mas por consequência deu a qualquer produção que ousasse contar sua trajetória uma difícil tarefa - e isso inclui o filme dirigido por James Marsh.
E a solução encontrada por Marsh para contornar o melodrama pesado foi simples: minimizar ao máximo qualquer tipo de conflito e focar o filme no relacionamento de Hawking com sua primeira esposa, Jane. Assim, o ganhador do Oscar por O Equilibrista torna A Teoria do Tudo em um romance com toques de realidade, uma história repleta de situações trágicas que em pouquíssimos momentos apresenta o real peso de tais momentos.
Baseado no livro escrito pela própria Jane Hawking (Felicity Jones), o roteiro escrito por Anthony McCarten parte do momento em que o casal protagonista se conhece durante uma festa de Cambridge e acompanha todos os problemas aos quais Stephen (Eddie Redmayne) é submetido por causa de sua doença ao mesmo tempo em que mostra a ascensão profissional do autor de Uma Breve História do Tempo, tudo sob o ponto de vista do relacionamento vivido pelos dois.
O ponto forte da cinebiografia aqui é a atuação de Redmayne. Bastante similar ao perfil do físico, o ator esbanja um trabalho corporal impecável, imitando as dificuldades locomotoras providas pela doença mesmo antes dela ser diagnosticada - e nesse ponto é importante ressaltar a maneira como o inglês consegue trazer uma fragilidade cadavérica nas mãos e nos pés para construir seu personagem. Redmayne também é eficaz ao intensificar os efeitos da paralisia no rosto apenas na metade final do longa, ressaltando todas as perdas geradas pela esclerose.
Mas se o intérprete de Hawking é eficaz em sua performance, o resto da produção é prejudicado severamente pela má execução da decisão tomada pelo diretor no início. Marsh confunde manter o drama no mínimo com torná-lo sem qualquer dramaticidade maior, e logo o que era para ser um jogo de sutilezas bem composto vira uma história leve ao extremo e incapaz de manifestar um peso sequer. Dessa maneira, não só a trilha sonora composta por Jóhann Jóhannsson soa fora do tom da proposta como também a atuação de Felicity Jones é afetada, pois sua Jane carece de maior peso na narrativa simples.
Alternando-se ainda em bons (o plano angular das águas do mar, a cruz desenhada na garganta de Hawking antes da traqueostomia) e maus momentos (Jane subindo as escadas em espiral, a tentativa de juntar o fogo de uma lareira com os olhos do protagonista) na fotografia e com discussões superficiais sobre ciência e religião, A Teoria do Tudo talvez encante pela simplicidade da trama e a bem acertada ausência de um melodrama. A falta de qualquer peso inibe o filme, entretanto, de ser algo que faça jus ao brilhantismo do físico em foco além de ser lembrado pela atuação de um membro de seu elenco.

Nota: 7/10

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