domingo, 1 de fevereiro de 2015

Crítica: Caminhos da Floresta

Indecisão geral prejudica caminho de musical.

Por Pedro Strazza.

Assim como em todos os outros gêneros, o musical tem suas próprias maneiras de se diferenciar. Seja pela forma, o estilo de canção ou a apresentação da obra em si, a classe de cinema com forte influência teatral consegue trazer para seus fãs os mais variados encantos, desde que siga fiel à sua metodologia estabelecida e não altere sua estrutura quando lhe bem convir - E apesar de existirem sim exceções à essa regra, estas são, como bem diz o termo que as define, exceções.
Posto desta maneira, os problemas para produções de tal categoria começam quando falta a elas um direcionamento que faça-a seguir seus preceitos e formatos fielmente, e Caminhos da Floresta exemplifica bem a problemática. Adaptação da peça homônima da Broadway escrita por Stephen Sondheim e James Lapine (também roteirista da versão cinematográfica), o filme dirigido por Rob Marshall - já experiente no gênero com o interessante Chicago e o curioso Nine - em vários momentos de sua narrativa parece perdido quanto a que modelo de musical ou conteúdo seguir, como se estivesse tão perdido quanto os personagens que acompanha estão na floresta.
Com a proposta de unir vários contos-de-fada em uma mesma história (terreno este já desbravado por Shrek, Fábulas, Once Upon a Time e O Fantástico Mistério de Feiurinha), Caminhos de Floresta conta a história de um Padeiro (James Corden) e sua Esposa (Emily Blunt), que, para reverter uma maldição lançada pela Bruxa (Meryl Streep, exagerada o suficiente para incomodar, mas não tanto para conseguir indicações a prêmios) e ter um filho, precisam conseguir em um espaço de três dias uma "vaca branca como o leite", uma "capa vermelha como sangue", um "fio de cabelo dourado como milho" e uma "sandália como ouro". E enquanto realizam essa busca desesperada na floresta, o casal acaba se esbarrando nas histórias clássicas de João (Daniel Huttlestone) e o Pé de Feijão, Cinderela (Anna Kendrick), Rapunzel (Mackenzie Mauzy) e Chapéuzinho Vermelho (Lilla Crawford).
Já de início o longa tem problemas sérios para estabelecer o ritmo musical de sua história. Indeciso entre seguir o caminho de somente melodia semelhante ao de Os Miseráveis (e os longos e aborrecidos 14 minutos da canção de abertura bem provam isso) ou o do esquema tradicional do gênero, o filme alterna longos momentos de cantoria com iguais espaços falados, e aos poucos torna sua narrativa enfadonha de se acompanhar. Para piorar, grande parte das músicas entoadas pelo elenco soam muito semelhantes entre si, culpa em parte de seu cuidado quase artificial dado pelo estúdio após as gravações.
O roteiro de Lapine também não é de grande auxílio aqui. Por se tratar de uma produção infantil, o autor da peça parece assumir que o público aceitará quaisquer erros de continuidade impostos e comete vários ao longo da trama, tornando a obra não só infantilizada ao extremo mas também torna-a difícil de ser compreendida em alguns momentos. Incoerências como a dos poderes da Bruxa (que desaparecem em um momento e reaparecem em outro sem qualquer explicação), o feitiço de Cinderela (fugir três noites seguidas do castelo do mesmo jeito?) ou até os feijões mágicos (cuja explicação para enfeiar a personagem de Streep passa batida), afinal, se acumulam desordenadas, e abusam constantemente da lógica do espectador.
Elaborado no visual de forma genérica (talvez para cortar custos da produção), o musical ainda é preso sem explicação a uma tridimensionalidade típica do teatro, reforçada seguidas vezes pelo diretor ao longo da trama por planos que sem explicação abrigam todos os personagens em um mesmo ambiente sem estes perceberem um ao outro. E em conjunto com o roteiro, a direção de Marshall se desequilibra entre o escárnio e a seriedade exacerbada sobre a situação apresentada, resultando em cenas hilárias cujo riso sai não por causa do filme, mas sim por seu ridículo - e aqui gosto de lembrar da apresentação do Príncipe interpretado por Chris Pine, cuja primeira fala é entoada de maneira parecida à de um psicopata.
E é desse ridículo que o longa acaba por entreter, mesmo quando inadvertidamente. Se assumisse esse viés cômico em sua totalidade e abandonasse o tradicionalismo moralista, Caminhos da Floresta talvez obteria maior êxito em sua proposta fabulesca. É um desejo feito, pelo menos, para a próxima tentativa.

Nota: 3/10

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