sábado, 7 de fevereiro de 2015

Crítica: O Destino de Júpiter

Ópera espacial dos irmãos Wachowski é prejudicada por exposição excessiva.

Por Pedro Strazza.

Criatividade é uma palavra que define muito bem a obra dos irmãos Wachowski. Consagrados no cinema com Matrix (apenas seu segundo trabalho na direção!), Andy e Lana possuem a capacidade única de conceber mundos extremamente fantasiosos que em nenhum momento soem artificiais para seu público. Com seus respectivos erros e acertos, foi assim que eles fizeram com Speed Racer e sua velocidade hiper-colorida (dotado também de uma narrativa revolucionária, mas pouco reconhecida), A Viagem e suas conexões humanas entre tempos e, claro, a trilogia Matrix e sua crítica social latente.
Não é surpresa, portanto, que O Destino de Júpiter, o sétimo filme da dupla na direção, tenha como ponto forte sua mitologia. Pela primeira vez arquitetos de um universo inteiro, os Wachowski mais uma vez demonstram seu maior talento e elaboram uma gama de mundos e personagens deslumbrantes, criados na fusão de características animalescas - as naves similares a aquários, o design de som dos tiros das armas que lembram latidos e pios, as próprias feições dos mutantes, a lista continua - com a fascinação do homem com o espaço e os mitos criados por ele a partir disso - os sinais em milharais tornam-se locais de decolagem de naves, a reconstrução rápida de cidades (indireta ao destrutivo O Homem de Aço de Zack Snyder, talvez?) ocorre depois de grandiosos conflitos, etc.
É perceptível o cuidado dos dois diretores na invenção visual de seu universo, mas parece equivocado a maneira como eles o apresentam ao público. Por mais belo e interessante que seja, o cosmos de O Destino de Júpiter não ganha muitos espaços para falar por si só, pois seus conceitos e características são constantemente introduzidos por meio de diálogos expositivos, encadeados em sequência a ponto de exaustão. A ferramenta em si não é o problema (de que outra maneira saberíamos o que é um licomutante?), mas seu uso é desproporcional ao aceitável.
E esse não é o único erro infeliz do roteiro escrito por Andy e Lana. Talvez para embasar ainda mais o caráter crítico do filme à indústria do rejuvenescimento (um dos grandes temas da produção), talvez querendo deixar mais claro sua aceitação como space opera, a dupla força em seus personagens já planos e de única função um lado caricato, ao qual seu elenco segue com facilidade. E se em alguns atores a canastrice não afeta (Sean Bean sabe muito bem lidar com ela para compor seu Stinger), em outros ela prejudica de maneira definitiva, como é o caso do vilanesco Balem, interpretado por Eddie Redmayne com toques e timbres exagerados.
Mesmo construindo algo tão único, O Destino de Júpiter peca por querer explicar demais algo que poderia ser traduzido pela imagem, um terreno tão familiar aos Wachowski - e que ainda dominam bem, como as bem trabalhadas cenas de ação evidenciam - mas pouco usado aqui. Falta ao roteiro explorar mais o fantástico desconhecido com os olhos da protagonista Jupiter (Mila Kunis), e todos os outros aspectos do longa (principalmente a trilha sonora orquestrada pelo sempre sintonizado Michael Giacchino) parecem concordar com isso.

Nota: 6/10

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