terça-feira, 17 de março de 2015

Crítica: Mortdecai - A Arte da Trapaça

Mais uma bomba para a carreira de Johnny Depp.

Por Pedro Strazza.

O mercado de atores e atrizes de Hollywood é em parte um ciclo de altos e baixos. Quase sempre começando pelo anonimato, o artista começa a ganhar maior reconhecimento do público a cada produção de sucesso que se destaca, mas se se envolve em um trabalho de fracasso sua reputação cai com velocidade. Sair do desconhecimento público, entretanto, é um caminho sem volta, pois a partir daí cada erro cometido na carreira passa a ser julgado pelo espectador.
Um exemplo claro desse "tribunal público cinematográfico" é a trajetória recente de Johnny Depp. Desde sua brilhante parceria com Michael Mann em Inimigos Públicos, o eterno parceiro de Tim Burton naufragou em credibilidade e nos últimos cinco anos se tornou uma caricatura de seu Jack Sparrow, procurando emplacar em todas as produções que participa os trejeitos e maneirismos do protagonista da franquia Piratas do Caribe. Esta necessidade inexplicável do ator foi um tiro no pé em sua carreira, e as tentativas pífias de Depp o deixam cada vez mais distante da badalada reputação de outrora.
Mortdecai - A Arte da Trapaça, um dos mais recentes projetos protagonizados pelo artista, não escapa dessa sua queda vertiginosa; ela a acelera ainda mais. Adaptação da antologia homônima escrita por Kyril Bonfiglioli, o filme dirigido por David Koepp soa como um grito desesperado em busca de risadas, afim de entreter com uma história fraca e repleta de piadas grosseiras vergonhosamente executadas.
O motivo, porém, não passa desapercebido. São notáveis as tentativas de Koepp e do roteirista Eric Aronson em querer fazer da comédia protagonizada pelo bigodudo Mortdecai uma colorida sátira às tramas de investigação no mundo da arte que alguns filmes noir das décadas de 40 e 50 centravam suas atenções. Mas ao contrário de produções como as da franquia da Pantera Cor-de-Rosa, o longa se equivoca em querer fazer de seu protagonista uma figura comercializável e base para uma franquia de potencial lucro ao invés de simples ponto central na temática de seu escárnio.
E se é para tentar tornar um personagem marcante, quem seria a melhor escolha para o papel senão Depp? Com poucos segundos em cena o ator mostra mais uma vez sua predileção por repetir traços de Jack Sparrow, agora feitos para compor seu Mortdecai: Estão lá o jeito bêbado de agir, a maneira como pronuncia as palavras, o comportamento desastrado e outras tantas características do personagem predileto do ator, realizado sem medo algum de parecer similar a seus outros papéis recentes.
Com um elenco invejável e desperdiçado (chega a doer as participações de Ewan McGregor, Gwyneth Paltrow e Paul Bettany) e um ritmo cômico desengonçado ao extremo, Mortdecai - A Arte da Trapaça poderia ter sido filmado facilmente em outra época e condições pela Happy Madison de Adam Sandler, produtora famosa pelas comédias escrachadas e esquecíveis. Mas saber que o projeto acabou nas mãos de um ator três vezes indicado ao Oscar e que ele mesmo assim obteve o mesmo resultado só ressalta o quão para baixo foi a carreira de Johnny Depp nesses últimos tempos.

Nota: 1/10

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