terça-feira, 3 de março de 2015

Review: House of Cards - 3° Temporada

Tom caricatural funciona tanto para bem quanto para mal no primeiro mandato de Frank Underwood.

Por Pedro Strazza.

É com uma mijada no túmulo de um de seus antepassados que Frank Underwood inaugura a terceira temporada de House of Cards mostrando a solução da série para seus problemas narrativos inevitáveis. Com esse simbolismo claro e grosseiro (característica essa bastante presente na produção desde seu princípio), a versão estadunidense da minissérie da BBC oficializa ao espectador uma mudança radical de tom para contar sua história de poder e desejo, e no processo distancia-se de toda a construção feita no primeiro ano e preservada em alguns pontos no segundo. Se antes a política era tratada com seriedade e com algumas pontadas de ironia, ela agora é satirizada e ridicularizada a todo momento possível.

A alteração não é à toa. Depois de duas temporadas armando esquemas e fazendo intrigas, Underwood (Kevin Spacey) enfim conseguiu o que queria e chegou à presidência dos Estados Unidos, o topo da cadeia política do país. Mas não há tempo para celebrações, pois Frank, junto de sua esposa Claire (Robin Wright), precisa lidar com todo tipo de questões para salvar seu governo e garantir o segundo mandato, e isso exigirá tudo. A manutenção do poder é muito mais complicado que alcançá-lo, e os 13 episódios usam do exagero para evidenciar esse contraste.

Para grande parte de sua trama, essa abordagem funciona muito bem. Apesar de nunca alcançar a qualidade atingida no primeiro ano, o terceiro consegue pelo menos se sair melhor que o segundo ao aceitar o ridículo que se tornou, e o emprega para brincar com o panorama atual do país.

Assim, se na temporada passada era visível o incômodo e a indecisão em separar o debate político da bobagem sensacionalista, a série aqui se sente confortável em misturar as duas coisas e tratá-las com humor como uma só, obtendo a partir disso momentos tanto fascinantes em sua concepção como divertidos por seu absurdo. Quem melhor se aproveita disso é Lars Mikkelsen, que entende essa visão para fazer de seu presidente Petrov ao mesmo tempo uma caricatura muito bem feita de Vladimir Putin e um antagonista mais interessante que o Raymond Tusk de Gerald McRaney.

A "política do exacerbamento" também se faz eficiente com os personagens coadjuvantes, pois encontra neles um espaço amplo para trabalhar. Do arco de recuperação vivido por Doug Stamper (Michael Kelly), destacado sem muita sutileza pela temporada, às pequenas trajetórias de personagens como a de Heather Dunbar (Elizabeth Marvel) ou Remy Danton (Mahershala Ali), o elenco periférico mantém sua qualidade por conseguir trabalhar no caricato seus papéis rasos e unidimensionais para torná-los minimamente interessantes.

A dupla protagonista, por outro lado, sofre com esses excessos por já estarem nessa posição caricatural desde o início da série. A crise de relacionamento gerada pelo poder é um tema muito batido para um casal frio e racional como o de Frank e Claire, e mesmo que este gere episódios fantásticos - o sétimo capítulo pode cometer erros em sua temporalidade, mas é certeiro ao explorar mais a fundo e com sensibilidade a dinâmica dos dois - e um personagem tão bem encaixado entre os dois como é o escritor vivido por Paul Sparks, na maioria das vezes ele resulta em situações patéticas, e os últimos episódios da temporada (além do gancho para a quarta) são prova disso. Nesse meio tempo, as atuações de Spacey (mais caras e bocas impossível, apesar de quebrar menos a quarta parede) e Wright passam do limite e tornam-se canastrãs, graças aos diálogos fracos realizados entre os dois.

Mesmo superior ao ano anterior e ser parcialmente feliz em sua aposta drástica, a terceira temporada de House of Cards não consegue fazer muito mais que manter ao mínimo a qualidade da série, e evidencia o desgaste cada vez maior da obra. A cada nova leva de episódios, o seriado criado por Beau Willimon soa mais e mais como uma paródia de si mesmo, e tornar cômico o tom da narrativa ou exagerar na composição de seu protagonista não são capazes de esconder esse problema.

Nota: 7/10

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