sábado, 25 de julho de 2015

Crítica: A Forca

Terror aproveita ambiente teatral para compor seu monstro.

Por Pedro Strazza.

Como nos outros filmes de filmagens encontradas da Blumhouse Productions, A Forca inicia seu conto de terror com todas as limitações e vantagens típicas do subgênero. Protagonizada por um grupo de adolescentes interpretados por um elenco de principiantes (nesse caso específico, é hilário perceber como o nome dos personagens é o mesmo dos artistas) e com câmeras de qualidade adequada à realidade do cidadão comum dos Estados Unidos, o longa-metragem de estreia da dupla Travis Cluff e Chris Lofing na direção segue o caminho habitual da grande maioria de produções filmadas neste formato, mas com novidades interessantes aqui e ali para o rotineiro banho de sangue juvenil.
Tais fatores, porém, são elaborados de maneira muito despercebida pelos dois diretores, que em seu debute se preocupam muito mais em fazer o arroz-e-feijão do gênero a já introduzir perspectivas novas ao mesmo. Assim, o filme soa rígido em estrutura e preocupado demais em sua própria execução, mas isso não necessariamente o impede de se aproveitar de sua inductilidade para surpreender.
Passado 20 anos depois de uma tragédia se dar durante uma peça chamada The Gallows em um colégio localizado em Beatrice, Nebraska, quando um estudante chamado Charlie acabou morrendo enforcado sem querer durante a encenação, o filme conta a história de quatro adolescentes envolvidos na nova montagem da obra pela mesma instituição, realizada numa forma sinistra e pouco positiva de lembrar o passado. Invadindo o teatro do colégio à noite para tentar impedir que a produção aconteça por motivos puramente (e obviamente) egoístas, o grupo é emprisionado no local pela alma penada do garoto morto, que começa a matar cada um dos jovens como parte de sua vingança a tempos prolongada.
Essa restrições (geográfica e de elenco) impostas pelo roteiro escrito por Cluff e Lofing funciona muito bem para o longa, pois permite a ele que não se delongue muito em questões menores e importantes do subgênero. Com um tempo muito curto à sua disposição (são pouco mais de 80 minutos de duração), A Forca consegue ser dinâmico e bastante eficiente na maneira como apresenta o terreno de sua chacina e suas vítimas, estas últimas claras representações de estereótipos consagrados pelo terror slasher - o mocinho, o atleta, a CDF e a mulher sex-symbol. É na roda de introduções, por sinal, que os dois diretores provam suas capacidades, realizando-a com pequenas e orgânicas ações que sozinhas resumem bem as informações que o público necessita.
Abre-se então um espaço considerável na narrativa, ao qual o filme dedica-se a explorar o espírito maligno da história, e é daí que surge o grande diferencial do longa. Embora feito com clichês, o desenvolvimento das ações de Charlie é bem emaranhado pelos diretores à lógica teatral, e incumbe o assassino de uma missão purificadora distorcida de eliminar os detratores da arte. A vingança vinda do passado, presente em muitas produções do gênero, ganha então uma camada extra, deixando o fundo de cena para assumir com segurança o protagonismo.
O problema de A Forca, porém, é que seus realizadores não possuem a experiência necessária para dar bom destaque a seus pontos fortes ou se desprender o suficiente das regras básicas do subgênero. Talvez por medo de irem além na proposta, os dois realizadores se mantém demais à fórmula e apelam demais a resoluções fáceis para os mistérios de sua trama, e esvaziam o potencial criativo em uma conspiração que já parece ter se tornado marca do found footage. Não o bastante, a dupla ainda encontra dificuldades em trabalhar com duas câmeras, criando transições que quebram o ritmo na maioria das vezes somente para explicar acontecimentos paralelos.
São esses amadorismos que tiram do filme um impacto inicial maior, mas não o suficiente para ocultar por completo seus bons momentos. Por mais que tenham muito a aprender, os dois diretores mostram em A Forca uma promessa interessante em um subgênero cada vez mais esgotado, graças à sua capacidade de tirar de suas restrições uma obra intensa mesmo quando óbvia. Se conseguirem dar maior luz a suas próprias qualidades nos próximos trabalhos, é capaz de Cluff e Lofing terem um futuro bastante interessante pela frente.

Nota: 7/10

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