segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Crítica: De Longe Te Observo

Cinema de presunções, estreia de Lorenzo Vigas em longa-metragens sofre de indecisão.

Por Pedro Strazza.

A visível constante do uso da falta de foco na construção narrativa de De Longe Te Observo serve para explicitar dois pontos importantes do filme. Por um lado, esta metodologia adotada pelo diretor Lorenzo Vigas funciona muito bem para deixar claro o egoísmo aparente de seus dois protagonistas, que focalizam na cena somente aquilo que os interessa. Por outro, ela também ilustra indiretamente a dificuldade de concentração da própria obra, incapaz de se decidir sobre que temática seguir em sua história.

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, o longa acompanha a vida do cinquentão Armando (Alfredo Castro) e do adolescente Elder (Luis Silva), duas figuras desde o início postas como desprezíveis - o primeiro se masturba pagando jovens para mostrar seus corpos, enquanto o segundo é exageradamente violento em qualquer tipo de situação - que, depois de um primeiro encontro explosivo, começam a se ver com maior frequência e a ajudar um ao outro, em uma daquelas típicas amizades que parecem improváveis de acontecer. A relação, porém, aos poucos evolui para outra coisa, e tanto o dentista quanto o garoto se afligem entre lutar contra ou abraçar isto.

A princípio, o longa surge como uma típica obra estruturada a discutir os efeitos do excesso de violência da sociedade contemporânea no indivíduo, evidenciando que seus dois personagens principais encontram-se acostumados a lidar com a agressividade do dia-a-dia pela incorporação. Mas o roteiro de Vigas (este por sua vez baseado numa história desenvolvida por ele e Guillermo Arriaga) começa a se perder ao tentar encaixar na trama os mais variados temas, buscando talvez uma maior riqueza a ela. Assim, assuntos como relacionamentos homoafetivos, drama de relações paternas e até abismo entre classes sociais se acumulam na narrativa sem qualquer desenvolvimento, e acabam por superficializar o filme e seus protagonistas ao invés de aprofundá-los.

O que constrange em De Longe Te Observo, a bem da verdade, é a falta de atenção. Na tentativa final de aproximar o espectador das aflições de seus protagonistas - que ali e aqui exibem uma intimidade graças aos esforços de Castro e Silva - para tentar dar impacto a seus destinos, ele esquece o próprio primeiro ato, onde os apresenta como pessoas na superfície violentas, e ignora o segundo, no qual apenas faz o início da amizade e presume que o público irá aceitar a passagem de tempo. Presunção esta bastante fatal.

Nota: 2/10

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