Cinema de presunções, estreia de Lorenzo Vigas em longa-metragens sofre de indecisão.
Por Pedro Strazza.
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, o longa acompanha a vida do cinquentão Armando (Alfredo Castro) e do adolescente Elder (Luis Silva), duas figuras desde o início postas como desprezíveis - o primeiro se masturba pagando jovens para mostrar seus corpos, enquanto o segundo é exageradamente violento em qualquer tipo de situação - que, depois de um primeiro encontro explosivo, começam a se ver com maior frequência e a ajudar um ao outro, em uma daquelas típicas amizades que parecem improváveis de acontecer. A relação, porém, aos poucos evolui para outra coisa, e tanto o dentista quanto o garoto se afligem entre lutar contra ou abraçar isto.
A princípio, o longa surge como uma típica obra estruturada a discutir os efeitos do excesso de violência da sociedade contemporânea no indivíduo, evidenciando que seus dois personagens principais encontram-se acostumados a lidar com a agressividade do dia-a-dia pela incorporação. Mas o roteiro de Vigas (este por sua vez baseado numa história desenvolvida por ele e Guillermo Arriaga) começa a se perder ao tentar encaixar na trama os mais variados temas, buscando talvez uma maior riqueza a ela. Assim, assuntos como relacionamentos homoafetivos, drama de relações paternas e até abismo entre classes sociais se acumulam na narrativa sem qualquer desenvolvimento, e acabam por superficializar o filme e seus protagonistas ao invés de aprofundá-los.
O que constrange em De Longe Te Observo, a bem da verdade, é a falta de atenção. Na tentativa final de aproximar o espectador das aflições de seus protagonistas - que ali e aqui exibem uma intimidade graças aos esforços de Castro e Silva - para tentar dar impacto a seus destinos, ele esquece o próprio primeiro ato, onde os apresenta como pessoas na superfície violentas, e ignora o segundo, no qual apenas faz o início da amizade e presume que o público irá aceitar a passagem de tempo. Presunção esta bastante fatal.
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