terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O Cinema em 2015: Piores do Ano

O que o cinema produziu de pior em 2015.

Por Pedro Strazza.

Não dá para ser perfeito. Ainda que tenha oferecido filmes maravilhosos, 2015 foi também um ano de muitos erros e equívocos no mundo do cinema. Além dos dez longas que compõem esse maravilhoso ranking de pura chacota e irritação, os últimos 365 dias trouxeram os mais variados tipos de horror nas telonas.

Mas se nos outros anos os motivos para tais resultados escabrosos variaram bastante, em 2015 grande parte destas produções encontrou um denominador comum: a representação feminina. Em dias marcados pela contestação do uso da mulher pelo cinema e outras artes, foi comum ver nos filmes mais fracos e estúpidos a perseverança de uma lógica ultrapassada no assunto. Em grande parte dessas obras, a mulher é reduzida de significação, fetichizada ou, pior, tornada em figura de antagonismo, graças a seus "dotes" capazes de atrair o protagonista masculino ao pecado, sendo relevante nesta última que ela seja posta em "seu devido lugar". Não à toa, pelo menos seis dos dez longa-metragens nomeados ao Piores do Ano de 2015 tem em comum o uso de tais e outros artifícios tão degradantes ao gênero feminino.

Esse não foi o único ponto, porém, que levou tantas produções ao fracasso em seu conteúdo, e uma rápida visita a alguns dos piores filmes hollywoodianos de grande orçamento é capaz de ilustrar alguns dos outros pontos a serem repensados para 2016. Enquanto Quarteto Fantástico mostrou que novas ideias a marcas antigas nem sempre mostram melhores resultados, 007 Contra Spectre provou que impor mudanças drásticas de gênero a um personagem de gênero são capazes de quebrar seu funcionamento; Insurgente e o "último" Jogos Vorazes, por outro lado, evidenciaram o apodrecimento de algumas das estruturas que fazem famosos os filmes voltados para o público jovem, no mesmo passo que Ted 2 reforçou a noção de que repetir a fórmula não funciona sozinho.

De qualquer forma, nenhum destas obras foi tão mal quanto os próximos dez filmes a serem comentados, de longe os piores exemplares do cinema lançados comercialmente no país em 2015. Vamos a eles:

10) Crimes Ocultos

Crimes Ocultos é uma aula básica de roteiro, mas não no bom sentido. O filme, sobre um agente da polícia militar da União Soviética que é rebaixado de seu serviço e tenta solucionar um mistério envolvendo o desaparecimento sistemático de crianças ao longo do território, apela para todas os clichês e maniqueísmos de seu tema, mas não os sabe utilizar a seu favor em nenhum momento. O resultado, alinhado com um inglês em sotaque russo dos piores de Tom Hardy e grande elenco, fazem o longa se tornar um aborrecimento constante, incapaz de atrair o espectador em qualquer momento. 

9) Miss Julie

Montagem da homônima peça do dramaturgo August Strindberg, esta versão de Miss Julie é talvez o melhor exemplo do quão difícil é realizar uma adaptação de uma obra teatral para a telona. Enquanto privilegia atuações nada equilibradas de Jessica Chastain, Colin Farrell e Samantha Morton, a diretora Liv Ullmann não consegue aproveitar dos poucos ambientes que ocupa, e a obra perde qualquer tipo de fluidez. Ao invés disso, o que se vê em cena é uma obra estagnada, que não consegue se utilizar de sua origem teatral nem de disfarçar o seu incômodo cheiro de mofo.

8) O Exterminador do Futuro - Gênesis

Mesmo que venha a ser lembrado como um ano de bons retornos de inúmeras franquias, 2015 também será marcado por este que foi o pior espécime de uma tentativa de reboot trajada de sequência. Não apenas responsável por declarar a morte da série O Exterminador do Futuro e equivocado na reutilização das estruturas clássicas dos dois primeiros (e clássicos) filmes, Gênesis também conseguiu a façanha de diminuir Sarah Connor, uma das personagens mais fundamentais do cinema de ação e da representação da mulher nos anos 90, que aqui se transforma numa menina adulta cujos únicos (e não maiores) conflitos são de relações familiares. Um erro crasso, que nem Emilia Clarke consegue esconder ou defender.

7) Caminhos da Floresta

Rob Marshall já vinha mostrando em seus últimos dois filmes um desgaste evidente de sua fórmula, que preza muito pelo movimento e pouco pelo conteúdo. Nada preparou o público, porém, para seu Caminhos da Floresta, adaptação do musical da Broadway que é disparado uma das obras mais vazias de 2015. Marshall despreza com categoria a temática de desconstrução dos contos de fada da peça e tenta realizar uma homenagem a estes, criando um choque de noções que simplesmente não se sustenta em momento algum.

E sobre as músicas... digamos que se eu ouvir mais um "Into the woods!" ou "AGONY" eu mato alguém.

6) A Entidade 2

Lançado em 2012, o primeiro A Entidade era um verdadeiro espetáculo de terror, que mesmo com seus erros conseguia fazer de sua criatura algo assustador sem mostrá-la. Sua sequência parece ter desaprendido isso. Insistindo constantemente em um processo de iconização de Bagul, o longa de Ciarán Foy se utiliza somente de sustos fáceis e apelo gráfico ao invés de investir em um terror atmosférico, local onde a entidade do título funcionava melhor. O maior erro, porém, é acreditar que revelar mais sobre o ser e seus meios trará melhores oportunidades à continuação, e no fim isso custa caro ao filme e sua tentativa de serialização.

5) À Beira Mar

Angelina Jolie já havia mostrado dificuldades em dirigir esse ano com seu Invencível, mas é com À Beira Mar que a cineasta demonstra estar precisando voltar aos estudos. Ainda que entregue junto do marido Brad Pitt uma boa atuação, Jolie faz aqui um filme modorrento sobre relações íntimas, envolvendo com sutileza machismos estridentes como culpabilidade da mulher e importância do marido ser o líder em situações de crise. E não importa o número de profissionais excelentes que ela se cerque, Angelina ainda continua a entregar as mesmas imagens de antes, quase sem emoção como suas histórias. 

4) A Casa dos Mortos

Para ser honesto, fico surpreso que o found footage continue a ser um subgênero em voga no cinema de terror, mas mais ainda com as maneiras incrivelmente estúpidas pelas quais alguns cineastas tentam reinventá-lo. É o caso de A Casa dos Mortos, que tenta misturar elementos de câmera na mão com cinematografia convencional em uma história típica de casa mal-assombrada. O resultado, óbvio, é desastroso: o longa é incapaz de se estruturar em qualquer uma das abordagens, além de insistir periodicamente em sustos previsíveis ao extremo.

E em nada, absolutamente em nada ajuda tentar enfiar uma reviravolta à la Shyamalan no fim, algo que no fundo reforça mais a superficialidade da produção que qualquer outra coisa.

3) Duas Irmãs, Uma Paixão

Se em Miss Julie o cheiro de mofo era difícil de se ignorar, no representante alemão para o Oscar do ano passado ele é impossível de se evitar. Com uma narrativa involuntariamente pesada, o novelesco Duas Irmãs, Uma Paixão é um desastre de altas proporções, incapaz de fazer algo do drama do título além de conflitos "'Ele é meu!', 'Não, ele é meu!'". Os figurinos e o design de produção tem lá seu charme, mas de que isso serve sozinho?

2) Cinquenta Tons de Cinza

Cinquenta Tons de Cinza é muito mais uma imensa decepção que um filme de pior espécie. Explico: por mais machista, raso e papo interminável de DR que a adaptação do livro de E.L. James seja (e é, não se engane!), o filme de Sam Taylor-Johnson perdeu uma chance inacreditável de romper em 2015 com os tabus puritanos de sexo que por anos envolvem Hollywood e o impedem de ser o berço de novas revoluções sexuais. Em contraponto a isso, o longa entrega uma narrativa coxinha, assustada em mostrar qualquer evidência de relações ou membros sexuais (novamente, é um filme tão machista a ponto de não ter coragem de não mostrar um pênis!). O que poderia ser um filme ambicioso termina uma novela "para donas-de-casa", a adaptação mais fiel em espírito de um romance de Sidney Sheldon. Pena.

Mas sem dúvida o pior filme de 2015 é...

1) Mortdecai - A Arte da Trapaça

É difícil de definir o que é pior em Mortdecai - A Arte da Trapaça. O humor grosseiro e sem qualquer momento de relevância, a atuação desgastada de um Johnny Depp no fundo do poço da carreira, o sexismo implícito combinado à objetificação e antagonização máxima da mulher na forma das curvas de uma Olivia Munn completamente má utilizada... a falta de substância e a chacota implícita do diretor David Koepp com elementos tão ultrapassados quanto a obra são alarmantes. É um filme inadequado, incapaz de ver-se a si mesmo em meio a tanta arrogância e desperdício de um ótimo elenco e que nem consegue fazer jus ao título de comédia.

Pelo menos pra mim, resta torcer para que em 2016 o agora bicampeão da categoria Johnny Depp saia dessa maré de azar e volte à plena forma de antigamente, porque pior que isso (eu espero que) não fica.

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