quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Crítica: O Bom Dinossauro

Faroeste e animação não escondem reais problemas do filme em 16° projeto da Pixar.

Por Pedro Strazza.

Embora seja uma animação que se disponha a contar uma história em um mundo onde dinossauros e seres humanos coexistam - graças à ausência do meteoro que destruiu os primeiros - é curioso que O Bom Dinossauro se estabeleça em seus primeiros momentos como um filme sobre as fundações dos Estados Unidos. As primeiras cenas do 16° longa-metragem da Pixar, afinal, são exatamente sobre esse tema, mostrando o pai do protagonista Arlo formando com paciência sua fazenda e família.

É esse estranho espírito nacionalista, alinhado com a inesperada adequação aos trejeitos do faroeste, que torna o filme do diretor Peter Sohn em uma espécie de experiência já vivida pelo espectador, que ao mesmo tempo é procurada e rechaçada pela produção para contar a história do jovem apatossauro Arlo e sua inexplicável parceria com uma selvagem criança humana, Spot. Único a não conseguir provar seu valor para a família, o dinossauro acaba longe dela após uma estranha cadeia de eventos, e tendo como única companhia o pequeno selvagem ele parte então em uma longa jornada de volta para casa.

Daí em diante, o roteiro de Meg LeFauve segue sem maiores surpresas as diretrizes da Pixar, que tem no arco de amadurecimento o elemento universal para se conectar com adultos e crianças. A diferença aqui é que, se nos outros filmes do estúdio essa universalidade era seguida à risca, em O Bom Dinossauro ela parece se chocar constantemente com tom moralista ao qual ele se associa: pelo menos aos olhos de Sohn, LeFauve e o resto da equipe, a jornada de Arlo e Spot é nada mais que a de dois indivíduos em busca de suas respectivas unidades familiares, únicas capazes de prover a eles dos meios necessários para sobreviver. Para os menores isso talvez funcione, mas no plano geral esse discurso não poderia estar mais ultrapassado.

O que não está datado, porém, é o faroeste, e é ele que oferece ao longa os seus melhores momentos. Na trilha sonora característica de Jeff e Mychael Danna ou no design de todas as cenas envolvendo o trio de tiranossauros e sua procura pelo rebanho, os toques do gênero conseguem dar o estofo necessário ao arco principal quando tem a chance de realizar isso por justamente trazer um caráter atemporal à produção. Mesmo a crítica religiosa empreendida na figura dos pterodáctilos, a princípio tão fora das estrutura estabelecida, parece se tornar mais orgânica conforme esse processo se dá na narrativa.

O outro ponto que trabalha à favor da história e a salva do genérico é a própria animação, que encanta em seus aspectos mais detalhistas. Os efeitos de luz, sombra e água são quase realistas em sua proposta, dando vida aos ambientes e personagens (esses bastante estilizados). O truque, entretanto, é que eles nunca chamam a atenção para si além dos planos gerais, momento onde são chamados para tomar a frente do palco.

E é talvez aí que esteja o grande problema de O Bom Dinossauro. Se em outros filmes a Pixar chamava a atenção por criar histórias que brilhavam nos pequenos detalhes, falta à estreia em longas de Sohn uma trama sólida, e ele aposta somente no fator do "algo a mais" para substituí-la. Mas não importe o número de adereços que se ponha na superfície, esse vazio é sentido em toda a cavidade oca.

Nota: 6/10

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