sábado, 25 de junho de 2016

Crítica: Independence Day - O Ressurgimento

Sequência parece vinda diretamente dos anos 90, mas traz novidades.

Por Pedro Strazza.

Não chega mais a ser novidade que a popularidade do cinema de Roland Emmerich tenha ido por água abaixo desde Independence Day. Diretor formado pelo blockbuster desde que veio trabalhar nos EUA, o alemão ficou mais conhecido por filmes desastre como Godzilla, O Dia Depois de Amanhã e 2012 nos anos posteriores ao longa estrelado por Will Smith e Jeff Goldblum, sem contudo reproduzir o mesmo impacto na bilheteria ou até de qualidade. É para a surpresa de ninguém, então, que o cineasta volte ao longa que o lançou no mercado, produzindo quase vinte anos depois a sequência inevitável para seu maior sucesso.

Esse retorno, entretanto, não revela apenas uma simplicidade mercadológica no raciocínio de Emmerich, mas também um pouco mais do que funciona e não funciona em seu cinema dito "destrutivo" quando posto ao lado de outros trabalhos de sua carreira. Pois enquanto nos três filmes desastre citados acima o diretor tende ao banal e a problemas graves de conteúdo, no primeiro Independence Day e nesse O Ressurgimento ele mostra uma coesão incomum dentro do gênero e das grandes produções hollywoodianas, do qual só se beneficia quando mais precisa. É como se Emmerich só funcionasse nos filmes dessa agora franquia de guerra entre aliens e humanos, até porque é nela que ele parece acreditar de fato na mensagem que passa.

Ambientado exatos vinte anos depois do original e em uma realidade onde a sociedade aproveitou-se dos restos da invasão alienígena para desenvolver sua própria tecnologia, o longa mostra um segundo ataque empreendido pelos aliens ao planeta Terra, dessa vez em uma escala bem maior. A estrutura da trama, escrita por Nicolas Wright, James A. Woods, Dean Devlin, James Vanderbilt e o próprio Emmerich, é bastante similar à do primeiro capítulo, adicionando novos e jovens personagens (representados por atores como Maika Monroe, Liam Hemsworth e Jessie T. Usher) e buscando no fundo os mesmos objetivos de entretenimento despretensioso e moral de união dos povos.

Mas se na superfície o longa demonstra um claro conforto em manter o tom idêntico ao do antecessor, indicando uma clara preferência pela nostalgia noventista que cada dia mais caracteriza as produções de alto orçamento estadunidenses, Independence Day - O Ressurgimento traz novidades que simultaneamente o mantém preso aos dias de hoje - mesmo tendo seu conflito travado em um mundo 100% diferente do real - e não atrapalhem sua fórmula. Seja no elenco mais inclusivo (e que atende interesses econômicos, como a maior participação da China bem exemplifica), na total globalização do planeta vista concebida pela trama ou até na leve mudança de eixo que tira a moral nacionalista da história e a substitui por uma mais global, essas atualizações proporcionam um frescor necessário à armação exagerada do filme, cuja escalada incessante para eventos maiores cansaria o espectador em menos de cinco minutos.

O grande atrativo da obra, porém, continua a ser as pequenas intersecções com outros gêneros feitas dentro do próprio filme desastre que realiza, agora alinhados com uma convicção plena do diretor em se divertir pelo blockbuster, ainda que prejudicado ora ou outra pelos próprios esforços de serialização da história (mais danosas no fim do terceiro ato). A ação que permeia as batalhas sempre é capaz de abrir espaço para o longa englobar esses experimentos, como a do terror inerente na cena de perseguição envolvendo um monstro gigante com uma arma atrás de um ônibus escolar ou na espécie de reprodução de uma Guerra do Vietnã dentro da espaçonave alienígena. Emmerich é pragmático na execução desses momentos, focado em tirar diversão da vocação para filme B da produção, mas aqui e ali tem momentos inspirados, principalmente quando faz a progressão comparativa da escala dos armamentos e objetos utilizados por aliens e humanos - e seu uso de planos abertos que forcem o fator "uau" em cima do tamanho destes, similar aos de Gareth Edwards em Godzilla, é bastante divertido.

É aí que mora talvez o ponto de separação dos dois Independence Day de outros trabalhos do cineasta no gênero. Se a destruição de cidades e pontos turísticos em 2012 e O Dia Depois de Amanhã soam contraditórias por quererem escapar do superficial mas no fim o assumirem como principal atrativo, em O Ressurgimento a adesão escancarada a esta (presente até mesmo no elenco mais velho e liderado por atores como Jeff Goldblum e, óbvio, Bill Pullman) permitem a diretor e filme que funcionem dentro do ridículo estabelecido, concebendo um espaço onde sua noção de entretenimento é capaz de ser explorada com satisfatoriedade. Por mais efêmero que seja, Independence Day - O Ressurgimento é um dos poucos produtos dos anos 2010 a se beneficiar dos resquícios de uma aura noventista ditada pelo imediatismo, com um mínimo de consideração feito pela posterioridade.

Nota: 8/10

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