domingo, 21 de agosto de 2016

Crítica: Quando as Luzes se Apagam

Interessado em seu viés lúdico, terror perde força na repetição.

Por Pedro Strazza.

Quandos as Luzes se Apagam surge de uma proposta interessante: como no curta de 3 minutos que serviu de base para o projeto (e que você pode conferir aqui), o longa busca criar terror a partir do medo do escuro, uma sensação bastante comum na infância e que reflete no temor do ser humano pelo desconhecido. A alternância simples do interruptor entre luz e total escuridão é um dispositivo para trabalhar uma tensão existente dentro até de ambientes familiares (e claustrofóbicos) ao indivíduo, algo por si só um ponto de partida ideal para uma história disposta a trabalhar e exorcizar qualquer tipo de drama de relações íntimas pelo susto.

Não chega a ser supresa, então, que o roteiro de Eric Heisserer opte por uma crise familiar para fazer a transição do curta (regido apenas pelo mecanismo do gênero, muito por causa do tempo de duração) e também dar o pontapé inicial à trama, que aproveita para mudar alguns aspectos da criatura a ser enfrentada pelos personagens. Gerada pela morte do patriarca, essa crise foi responsável por afastar no passado a rebelde Rebecca (Teresa Palmer) do irmão Martin (Gabriel Bateman) e a mãe Sophie (Maria Bello) por causa dos surtos da última, e volta a aflorar quando o padrasto Paul (Billy Burke) morre de maneira misteriosa e um estranho ser começa a aterrorizar os três membros remanescentes. 

Daí em diante, Heisserer e o diretor David F. Sandberg (autor do curta) buscam estabelecer na narrativa diferentes dramas - um de relações abusivas, outro de abandono, um terceiro de depressão - que deem a sustentação necessária para seus propósitos lúdicos com o terror de ambiente, óbvio interesse maior da produção aqui. Essa opção pelo entretenimento mais puro talvez justifique a escancarada fragilidade temática da obra, conforme o conflito entre mãe e filha logo se revele presente somente para movimentar a trama de um espaço a outro e a relação de Sophie com a assombração, central aos eventos do filme, seja muito mal explicada em flashbacks dispersos e que trazem ainda mais dúvidas - sem contar os furos de roteiro ocasionais, como a assistência social que é chamada para atender um menino que dormiu na aula em (inacreditáveis!) três dias da semana. 

O que não faz sentido mesmo em Quando as Luzes se Apagam, entretanto, é como Sandberg parece ter dificuldades em lidar com o próprio suspense que esboça. Se no curta o diretor se beneficiava do tempo pequeno para empreender sustos constantes a partir de um único eixo, no longa essa vantagem se transforma em uma maldição imediatista, já que seus sets de horror não conseguem aproveitar os elementos introduzidos (os manequins, as lanternas escondidas, tudo soa como potencial não aproveitado) e recaem na repetição pura e simples. Os ambientes utilizados não se distinguem, e até o advento da luz negra e de velas no terceiro ato da trama não surte qualquer mudança no formato exaustivamente esgotado de "apagar e acender a luz" da narrativa. 

E sem a apresentação desses novos conceitos, tão necessários a qualquer produção do gênero nos dias de hoje, o terror do filme progressivamente se apaga, perdido em um meio termo de sustos previsíveis e a burocracia de temas que com certeza não está disposto a lidar.

Nota: 4/10

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