sexta-feira, 10 de julho de 2015

Crítica: Cidades de Papel

Nova adaptação de John Green se salva na química entre atores.

Por Pedro Strazza.

A cultura estadunidense possui imenso fascínio pelas temáticas da adolescência, e já há tempos faz questão de não esconder isso na sétima arte. Seja nos terrores slasher ou nas comédias teen, a figura do jovem parece trazer ao espectador médio norte-americano um maior grau de identificação que outras representações, talvez pelo fato do sistema educacional ser por todo o território tão homogêneo em formato, execução e até hierarquia nos alunos e professores. Transportar a aparente complexidade de dramas que passa pela cabeça do indivíduo nesse estágio da vida e traduzi-la para o público em forma de histórias não é tarefa fácil, porém; entender o adolescente e seus problemas é complicado, e a abordagem daqueles que se arriscam varia muito entre si.
No caso de John Green, por exemplo, a metodologia se faz pela materialização do imaginário. Em suas obras, o escritor gosta de trazer os anseios e desejos da juventude para a realidade, em tramas que por meio da alegoria passam a mensagem de forma direta para o próprio público dessa idade, principalmente na forma do romance. Assim, se em A Culpa é das Estrelas vemos o amor trágico e extremo da adolescência ser levado ao primeiro plano com um casal atormentado pelo câncer, em Cidades de Papel, a segunda adaptação de uma obra do autor, o que está no centro é a conhecida relação platônica.
Este, pelo menos, é o tipo de paixão que Quentin (Nat Wolff) nutre por Margo (Cara Delevingne) desde a infância. Típico garoto de pensamento conformista e invisível para os outros (o famoso nerd, se é para definir em uma palavra), o garoto com o tempo acabou se distanciando da moça, que tem bastante popularidade no colégio onde estudam pelo caráter misterioso e lendário das histórias que protagoniza, repetidas à exaustão pelos colegas nos corredores. Certa noite, porém, Quentin acaba por se reaproximar de Margo ao ajudá-la na execução de uma vingança, e quando ela desaparece no dia seguinte ele entende que deve ir atrás dela.
Dessa maneira, se estabelece no filme escrito por Scott Neustadter e Michael H. Weber uma busca pelo amor perdido em caráter literal, que disfarçado de road movie na metade do segundo ato parte para aquela famosa jornada de auto-descoberta. É apenas quando Quentin e os amigos Ben (Austin Abrams), Radar (Justice Smith), Lacey (Halston Sage) e Angela (Jaz Sinclair) saem da rotina e vão atrás de Margo, afinal, é que em teoria eles conseguem resolver suas próprias pendências e entender o momento pelo qual passam.
O problema é que essa tomada de conhecimento sai no longa bastante atropelada, e não por causa do encurtamento da viagem - bom lembrar, é menos de uma hora para mostrar o trajeto. Enquanto filme sobre a juventude, Cidades de Papel é ironicamente juvenil, pois surge desesperado em abordar vários temas desta idade querendo atingir o maior número possível de pessoas, mas se esquece de trazer uma ordem de mínima coerência na narrativa adotada. Se em alguns momentos sobra tempo para o desenvolvimento de Quentin, por exemplo, em outros ela some por completo para abrir espaço à sua relação com Ben e Radar ou para somente os dois amigos, sendo que os três casos tem objetivos muito distintos entre si.
Não ajuda também o fato do filme querer brincar com estereótipos adolescentes enquanto entrega uma história de fim de ciclo sobre os mesmos, e é aí que aparece o erro maior da produção. O contraste entre superficial e profundo transparece demais e ajuda o espectador a entender muito antes o destino dos personagens e aonde eles se encaixam no discurso jovial de Green, algo mortal para o macguffin que é a compreensão da real figura de Margo - neste ponto, o uso de um corporativo "Lady in Red" logo no meio do primeiro ato é precipitado, pois funciona tanto como realçador de seu caráter imagético quanto alerta não-intencionado da estrutura adotada pelo longa.
O que impede que tudo desabe, entretanto, é a capacidade de Green em conceber personagens simpáticos o suficiente para o público, e como o diretor Jake Schreier e o elenco consegue trazer essa característica para a telona. Independente do nível de atuação individual, não há dúvidas de que há uma ótima química entre os atores e atrizes mirins, e isso pode ser comprovado pela já antológica cena do pokémon, sozinha uma aproximação muito maior com o jovem contemporâneo que o filme inteiro.
No mais, Cidades de Papel vem para atestar a improbabilidade de termos um novo Goonies na atualidade. Não só os jovens tem no celular todas as respostas para suas perguntas, o seu despertar para a liberdade aqui é controlado, com a figura de autoridade - os pais ou mesmo a namorada - sabendo aonde eles vão do início ou já conformados com a rotina escapatória. E nada dói mais que uma mãe tranquila com a filha e seu inevitável retorno.

Nota: 5/10

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