quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Crítica: O Cavaleiro Solitário

A infeliz derrota de um western com tanto potencial

Há tempos fora de moda, o gênero do faroeste já vem há tempos com a proposta de se reinventar. Da redenção de Clint Eastwood em seu Os Imperdoáveis aos rios de sangue de Tarantino e seu Django Livre, Hollywood alterna entre erros e acertos em suas diversas tentativas de recolocar os cowboys e seus tiroteios de volta ao topo, mesmo que lançando muito mais longas equivocados no processo.
Ciente de tudo isso, o diretor Gore Verbinski decidiu tentar ser o bastião desse retorno aos tempos dos westerns ao resgatar o Cavaleiro Solitário dos mares do esquecimento e tentar torná-lo o símbolo dessa retomada. Personagem célebre nos anos 50, o heroi e seu fiel parceiro Tonto não só não conseguiram cumprir essa missão como ainda amargaram um prejuízo de cinquenta milhões aos cofres da Disney. Mas seria esse fracasso decorrente da própria qualidade do longa-metragem? A resposta não é tão fácil de ser respondida.
Como qualquer típico filme de origem, a trama acompanha o início da carreira de John Reid (Armie Hammer) e suas razões para virar o Cavaleiro Solitário, enquanto o próprio Tonto (Johnny Depp) narra a história a uma criança em um circo anos mais tarde. As homenagens de Verbinski já começam aqui, evidenciando o quão esquecido o gênero ficou a ponto de seus personagens clássicos virarem peças de museu. A reverência do diretor continua ao longo dos próximos 149 minutos de duração, e vão do empinar clássico do cavalo branco do heroi (embalada pelo ritmo do prelúdio à ópera de Guilherme Tell de Rossini) à presença solitária da "grande montanha" no grande deserto. Até o roteiro foi pensado nesse intuito, como no já tradicional antagonismo entre o poeirento velho-oeste e o avanço das máquinas servindo de motivação principal para o vilão ou a figura da família sendo usada como futuro refúgio para a aposentadoria.
Apesar de todo o clima saudosista, O Cavaleiro Solitário acaba se perdendo em várias momentos de seu clímax pela necessidade de emular a franquia Piratas do Caribe, grande sucesso de Verbinski, em seus momentos de clímax máximo. Quase todas as cenas de ação, por exemplo, lembram bastante o estilo caótico dos filmes de Jack Sparrow e companhia, e não combinam nada com o ritmo estabelecido. Até Johnny Depp não consegue sair de seu papel bucaneiro para fazer seu Tonto, tornando um personagem antes debilitado mentalmente em um maluco agitadíssimo (E com uma dor de costas incrível ao final - como ele conseguiu não se matar ao pular em um vagão contendo prata?).
A mistura errônea de gêneros pesa demais no andamento do longa, afetando também o delicado roteiro. Além dos vários personagens que desaparecem no meio da trama para voltar ao final (a cafetina de Helena Bonham Carter é totalmente dispensável), a história carece de profundidade para deixar o drama de John Reid palpável, e aliado ao infeliz papel de alívio cômico relegado a Armie Hammer em quase todo o filme o personagem perde o cargo de elemento principal para seu parceiro Tonto.
Por mais bem intencionado que a produção seja, O Cavaleiro Solitário não se decide entre ser uma aventura amalucada ou uma homenagem a toda uma geração, prejudicando-se muito nesse processo. Esse duelo entre seguir o intuito comercial ou nostálgico constitui-se talvez na principal razão pelo fracasso generalizado do filme no mundo inteiro, e quem perde mesmo é o próprio faroeste. Como já vimos em Django, o público ainda quer ver os cowboys e seus cavalos, mas Hollywood - e Verbinski - precisam necessariamente aprender de novo a filmar o velho-oeste em toda sua beleza.
Nota: 5/10

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