segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Crítica: Sex Tape - Perdido na Nuvem

Cameron Diaz e Jason Segel esquecem o roteiro em prol do exagero performático

Por Pedro Strazza

Roteiro e elenco são dois aspectos tão igualmente fundamentais no cinema que uma melhor desenvoltura de somente um dos dois pode já garantir certo sucesso artístico à produção. Assim, um longa que opta por exclusivamente dedicar seus esforços na concepção de uma história de qualidade tem, quando comparado a um filme que prefere gastar seu orçamento na escalação de atores e atrizes brilhantes, as mesmas chances de obter um resultado positivo como obra.
Estes dois tipos de situação, entretanto, precisam evitar o erro de, no foco excessivo em um destes elementos, esquecer do outro, caso seguido pela comédia Sex Tape - Perdido na Nuvem. O filme, roteirizado por Kate Angelo e os competentes Nicholas Stoller e Jason Segel, tem uma proposta interessante que é razoavelmente desenvolvida conforme a história avança, mas não consegue entregar todo o seu potencial devido a um estranho envergonhamento de seu casal protagonista, vivido por Segel e Cameron Diaz.
A dupla, que repete a parceria originalmente feita no péssimo Professora Sem Classe, fracassa repetidas vezes em trazer para a realidade audiovisual os diálogos e o humor de seus papéis ao realizarem performances exageradas e descaracterizadas. Estranhamente sem qualquer tipo de timing cômico e incomodados com a nudez exigida por seus papéis, Diaz e Segel tentam constantemente conquistar o riso de seu público através de caras e bocas ao invés de procurar usar o perfil de seus personagens, confundindo talvez seu real papel cômico na produção. O roteiro, afinal, não é superficial o suficiente para que eles possam improvisar a bel prazer, mas possui características humorísticas próprias a serem utilizadas.
Percebe-se esta personalidade do texto nos momentos genuinamente cômicos de Sex Tape. Aqui, o riso do espectador não surge na postura exacerbada do elenco ou da maioria das situações que estes protagonizam, mas sim dos poucos diálogos que sozinhos funcionam bem - como as discussões entre Segel e Diaz sobre os reais atrativos da pornografia (e sua aparente queda de qualidade). Mérito este de Stoller, que, tal qual nos recentes Vizinhos e Muppets 2, tem sua participação criativa evidenciada na trama.
Mas nem mesmo o roteiro de Sex Tape consegue sair impune. Ainda que colocando em pauta um tema bastante importante nos dias de hoje - os problemas do excesso de compartilhamento pela nuvem -, a trama guia a narrativa de forma similar ao de filmes como Se Beber Não Case, mas de forma desinteressante e, em muitos momentos, irritante - além de mercandológica, a exemplo das sucessivas propagandas claras de produtos da Apple.
Sem um roteiro tão bem elaborado e com atuações que insistentemente procuram se por acima deste, Sex Tape - Perdido na Nuvem mostra, através de seus erros, o quão importante é aliar o processo criativo de história e elenco para realizar um bom filme. Prova maior disso ocorre quando, no intuito de provocar o riso, a trama por duas vezes evidencia que os esforços de seus protagonistas poderiam ser substituídos por ações mais simples, mas os atores não esboçam qualquer tipo de reação que justifique o humor de tais cenas.

Nota: 4/10

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